Saudade – Portal monumental do cemitério é marco histórico da cidade

Série Achados do Arquivo, desta sexta-feira (24), conforme documentos em anexo faz uma retrospectiva sobre os primeiros cemitérios em Piracicaba. Foto: Davi Negri

 

 

Resolução de número 85, datada de 4 de junho de 1906, demonstra a decisão do Intendente a mandar construir um portão artístico no cemitério municipal. O documento é assinado por Manoel da Silveira Corrêa, Fernando Febeliano da Costa, Barão de Rezende, Coriolano Ferraz do Amaral, Francisco A. de Almeida Morato, Joaquim Pinto de Almeida e Manoel Ferraz de Camargo. Estes são nomes de vereadores, da Piracicaba provinciana, em acolhimento à decisão que resultou na construção do portal monumental que hoje é marco histórico na cidade.

A série Achados do Arquivo, desta sexta-feira (24), conforme documentos em anexo faz uma retrospectiva sobre os primeiros cemitérios em Piracicaba, até se consolidar no da Saudade, com seu pórtico principal e local onde se reverencia o olhar artístico do seu entorno, incluindo a parte externa, nas inúmeras obras artísticas expostas nos muros, mantidas pelo município.

O cemitério da Saudade é visto também como um espaço à contemplação. “Aqui somos todos iguais”, é a expressão em latim – OMNES SIMILES SUMUS – inserida no portal de entrada. A obra é estilo neoclássico, de 1906, construída na gestão do prefeito Aquilino José Pacheco, em trabalho de autoria do artista Altino Porto, e do construtor Carlos Zanota. Mas a história do local acontece bem antes, ligado ao protestantismo no Brasil, quando o alemão Otto Rudolpho Kupfer recebe autorização da Câmara para a compra de área de terra para aqueles que não professavam a fé católica.

Até 1872 o espaço foi exclusivo da comunidade protestante. O único cemitério da cidade, onde hoje é a Escola Moraes Barros era da religião católica. Os protestantes precisavam ser enterrados em Santa Bárbara D’Oeste. Naquele mesmo século, na década de 90, houve a municipalização dos cemitérios, e o primeiro sepultamento do cemitério da Saudade foi da escrava Gertrudes, marco histórico para os piracicabanos.

Hoje, sem religiões, mas com suas principais obras preservadas, o cemitério abriga verdadeiras obras de artes. Parte dos jazigos são tombados pelo Codepac (conselho de defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba), dentre eles: Prudente de Moraes Barros, primeiro presidente civil do Brasil e seu irmão, Manoel de Moraes Barros Júnior, que foi juiz de direito, promotor de justiça, delegado de polícia e presidente da Câmara.

O cemitério também guarda os restos mortais de João de Almeida Prado, Capitão Mor de Itú, Vigário Francisco Galvão Paes de Barros o padre Galvão, uma das personalidades mais queridas e influentes da antiga Piracicaba, e José Ferraz de Almeida Júnior, pintor Ituano, que foi assassinado pelo seu primo, por manter uma relação amorosa com a sua esposa.

São aproximadamente 3.500 túmulos, divididas em 90 quadras que abrigam pessoas famosas, anônimas, jovens, crianças e idosos, brasileiros e estrangeiros, pobres ou ricos, cristão ou não, negros, brancos e amarelos.

 

CEMITÉRIO PROTESTANTE – Documentos da Câmara demonstram que em 22 de janeiro de 1860, em sessão camarária, os vereadores aprovaram pedido no qual os alemães protestantes, residentes no município, pediram terreno para edificar cemitério próprio, visto que, por motivo de crença, não podiam ser admitidos, nem enterrados nos cemitérios desta cidade.

Então, a municipalidade concedeu aos alemães protestantes, para que edificassem seu cemitério, num terreno de oito braças, em quadra no lugar do Bairro Alto, fazendo frente à rua São José, e fundos com a rua Direita, ficando a cargo do Presidente, mediante aprovação da Câmara esta concessão, como tão bem a demarcação.

No dia 25 de fevereiro de 1873, em ofício, a Câmara Municipal endereçou à Assembleia Provincial o regulamento do cemitério para julgamento e aprovação, o que resultou em novo cemitério na época, e atual (Cemitério da Saudade), que fazia frente pela hoje Avenida Independência.

CEMITÉRIO DA SAUDADE – Conforme registros da Câmara e trabalhos de historiadores e pesquisadores, o cemitério da Saudade de Piracicaba foi o terceiro na cidade a ser construído e foi formado inicialmente como um cemitério protestante. O cemitério foi solicitado porque os protestantes, no caso, luteranos, não podiam ser sepultados em cemitérios católicos. Havia em Piracicaba dois cemitérios Católicos: o primeiro ficava localizado na Praça Tibiriçá, onde atualmente se encontra a E.E. ‘Morais Barros’ e o segundo, onde se encontra o Colégio Dom Bosco-Assunção, servia apenas aos padres e freiras. Theodore Loose foi um dos primeiros a serem sepultados no cemitério da comunidade, em 1869.

Muitos norte-americanos (batistas, metodistas e presbiterianos), vindos da Guerra da Secessão, também enterraram seus mortos nesse cemitério, que foi de uso exclusivo da comunidade alemã até tornar-se municipal (público) em 2 de dezembro de 1872, com o sepultamento da escrava Gertrudes. Para tanto foi construído um muro que separava os Protestantes dos Católicos. Também neste ano foi colocado, no muro da Avenida Independência, frente à Rua Moraes Barros um portão de ferro confeccionado pelo ferreiro Joaquim Lordello.

Reformado no início do século XX, suas ruas foram em boa parte alteradas, mantendo-se alguns túmulos nas disposições antigas, como no caso do Padre Galvão. Em 1906 o vereador Francisco Morato propôs a construção de um portal de entrada no Cemitério Municipal, que acabou trazendo a demolição do muro que separava os mortos de diferentes religiões. Foi executada uma avenida central e um portal de entrada, com características neoclássicas e anjos em relevo, projetado por Serafino Corso e construído por Carlos Zanotta.

Apesar de popularmente se dizer que pode ter sido inspirado no portal do Cemitério de Gênova, na Itália, é difícil a comparação, tendo em vista que o importante portal monumental do Cemitério Staglieno não apresenta semelhanças formais com o portal piracicabano, muito menos em tamanho ou proporções.

O Portal do Cemitério da Saudade é uma construção de caráter monumental, com inspiração no ‘Arco do Triunfo’ clássico, tendo proporções bastante acanhadas se comparado ao congênere genovês. Na entrada há quatro figuras em relevo representando serafins e querubins, todas diferentes entre si.

O portão de ferro fundido foi trazido da Alemanha pelo arquiteto Serafino Corso e a epígrafe OMNES SIMILES SUMUS foi pintada em 1941 pelo artista local Joca Adâmoli, atendendo ao pedido do Prefeito José Vizioli. A liberdade estética, com a qual foram usados os elementos clássicos, insere o monumento no Ecletismo.

ACHADOS DO ARQUIVO – a série “Achados do Arquivo” se pauta na publicação de parte do acervo do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, ligados ao Departamento Administrativo, criada pelo setor de Documentação, em parceria com o Departamento de Comunicação Social, com publicações no site da Câmara, às sextas-feiras, como forma de tornar acessível ao público as informações do acervo da Casa de Leis.

 

 

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