“Um dia ele chegou tão diferente
Do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente
Do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto
Quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto
Pra seu grande espanto…” (Valsinha, Chico Buarque – 1971).
AMOR E CRÍTICAS
Patrimônio nacional, o cantor e compositor fez inúmeras obras sob a influência sociopolítica e com críticas, muitas vezes velada, à sociedade brasileira. Mas, Chico também falou de sentimentos atemporais que desnudam a alma feminina de modo original e delicado.
ALMA FEMININA
A prostituta, a independente, a mulher delicada, a dona de casa, a mulher do subúrbio… todas as personalidades femininas retratadas por Chico nos fazem reconhecer o brilhantismo que dá o autor que nos sugere o quanto ele próprio compreende a alma feminina.
ALTER EGO
Diz-se que as músicas refletem o Alter Ego de Chico Buarque. O termo surgiu na psicologia e posteriormente passou a ser utilizado em outros contextos.
Alter Ego é o conceito usado para se referir a uma segunda personalidade ou identidade possuída por um indivíduo. Seria um conjunto de comportamentos, emoções, crenças e pensamentos diferentes daqueles normalmente mostrados pela pessoa.
Por exemplo, no campo da arte e da literatura, é frequentemente usado para se referir a um personagem que reflete partes da identidade do autor.
Alguns textos nos sugerem que a boneca de pano velho, Emília, de Monteiro Lobato, era seu Alter Ego, assim como a Monalisa era o Alter Ego de Leonardo da Vinci e Superman era o Alter Ego de Clark Kent.
Então, significa que quando um autor que não consegue realizar todos os seus sonhos, ele imagina personagens para seus livros com base no que ele realmente deseja.
“…Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas…”
Em 1976, anos de chumbo do Regime Militar, quando Chico compôs “Mulheres de Atenas” repare bem que ele não utiliza o verbo inspire-se, mas mire-se.
Profundo conhecedor da alma feminina, ele sugere uma reflexão: para que todas nós que vivemos numa sociedade patriarcal possamos escrever uma história diferente daquela vivida pelas mulheres de Atenas. Chico estava inspirando as mulheres para que elas jamais concordassem em ver seus direitos negados e seus desejos anulados.
A REALIDADE É DURA
Bem distante do romantismo de Chico está a realidade dura das mulheres que buscam por independência, direitos, justiça… senão vemos:
NÚMEROS
O ano de 2020 foi marcado por uma série de reportagens que apontavam o aumento da violência doméstica e intrafamiliar no Brasil e isso não foi diferente no município de Piracicaba.
Corroborando com essas informações, trazemos alguns dados relevantes que apontam o aumento da violência em Piracicaba durante a pandemia.
A Pesquisa Municipal De Violência Contra Mulher, do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba – IPPLAP, realizada no ano de 2020, sob minha gestão à frente do Conselho Municipal da Mulher de Piracicaba, analisou dados coletados junto ao Ligue 180 do Governo Federal, do período de 2015 a 2019, demonstraram que no quinquênio estudado, foram feitas 842 denúncias de violência contra as mulheres em Piracicaba. Segundo informações do Ministério dos Direitos Humanos, em 2020 foram feitas 804 denúncias, ou seja, quase o total de denúncias de cinco anos. Levando-se em conta o ano de 2019 para 2020, verificou-se um aumento de 356,82% no número de denúncias.
Segundo a análise dos dados do primeiro semestre de 2020, tem-se que a maior parte dessas denúncias foi referente à violência contra a pessoa idosa e contra a criança.
A maior parte das violações ocorreu na residência da vítima e do suspeito e os tipos de
violação mais ocorridos foram os de violência física e de violência psicológica.
Para quem não sabe, o 180 é a Central de Atendimento à Mulher, que presta serviços de escuta e acolhida qualificada às mulheres em situação de violência. O serviço registra e encaminha denúncias de violência contra a mulher aos órgãos competentes.
TAMBÉM EM 2020, UM ANO SIGNIFICATIVO PARA NÓS MULHERES PIRACICABANAS
Foi também neste mesmo ano de 2020 que nós do Conselho da Mulher de Piracicaba conseguimos a viabilização junto ao Executivo Municipal da doação de um terreno destinado à construção da nova Delegacia de Defesa da Mulher. Os avanços ainda não chegaram e nós piracicabanas que estamos acompanhando decepcionadas as notícias de que quatro cidades da nossa região terão, pela primeira vez, atendimentos 24 horas para registros de violência contra a mulher. Os serviços vão funcionar em salas exclusivas que já estão sendo montadas nos plantões policiais de Americana, Santa Bárbara d’Oeste, Sumaré e Hortolândia. Já aqui em nossa cidade, segundo matéria datada de setembro de 2021 e vinculada no site da Câmara de Vereadores, a implantação da nossa DDM 24 horas se tornou impossibilitada devido à falta de efetivo. Ora bolas, basta um olhar rápido sobre os diversos sites de segurança pública para já serem revelados os números deste disparate: É a DDM de Piracicaba a responsável por um grande volume de atendimentos e serviços, que se somados e comparados mês a mês ultrapassam a soma dos mesmos números de alguns outros DP’s juntos. E mais: com um número menor de contingente profissional. Por que este disparate?
É URGENTE!
Não precisamos de nenhuma bola de cristal para confirmarmos que o atendimento 24 horas da DDM é primordial aos sábados, domingos e feriados, quando realmente ocorrem maior número de agressões contra as mulheres.
FONTES MAIS CLARAS QUE AS ÁGUAS DAS FONTES DE ÁGUAS DE SÃO PEDRO
Apurou também essa jornalista que vos escreve, que desde o primeiro semestre de 2021, a DDM de Piracicaba está aguardando a renovação do contratado de estágios firmado entre a DDM, CIEE e a Administração Pública Municipal.
Foi também em nossa gestão no Conselho da Mulher que viabilizamos 2 estagiárias que, segundo as nossas fontes, prestaram excelentes serviços e contribuíram para o aumento no número de registros de Medidas Protetivas.
Veio também das mesmas fontes cristalinas, a informação sobre a DDM não dispor no momento de seguranças na recepção, gerando momentos de embaraços e cenas de violência.
BEBENDO NA FONTE
Segundo nossas fontes, a Delegacia de Defesa da Mulher – DDM de Piracicaba, solicitou, em 2021, 502 Medidas Protetivas à Justiça e a Patrulha Maria da Penha possui duas viaturas que trabalham 24 horas com 16 Guardas Civis, portanto, efetivo insuficiente. As viaturas monitoram as vítimas que possuem a medida protetiva, passando em frente à residência, anotando o horário ou mesmo se o agressor está próximo.
INAUGURAÇÃO
Nossas fontes nos contam que, desde novembro de 2021, os serviços de atendimento às mulheres vítimas de violência estão sendo realizados de forma presencial em uma sala inaugurada esta semana da Patrulha Maria da Penha, localizada no prédio do Departamento de Transportes Públicos da Semuttran, em frente ao Terminal Central da Integração e que atende de segunda a sexta-feira, das 08h00 às 16h00. Anteriormente, acontecia apenas por telefone.
INFORMAÇÃO
Hoje funciona assim: quando a vítima faz o B.O. na DDM e solicita a Medida Protetiva, ela recebe um folheto informativo no qual consta o endereço da sala da Patrulha Maria da Penha. A vítima deve se dirigir até lá para ser entrevistada, orientada e incluída no programa para que no mesmo dia as viaturas iniciem o monitoramento, tanto na residência quanto no trabalho.
INTEGRAÇÃO
Já eu penso diferente e apresento como argumento notícia vinculada pela imprensa local na qual se noticiou há um mês que um homem foi preso aqui em Piracicaba pela Guarda Civil Municipal após descumprir uma medida protetiva e ameaçar uma mulher.
A vítima estava no Terminal do Piracicamirim tentando voltar para casa após o trabalho, quando recebeu uma ligação do suspeito a ameaçando.
Segundo a corporação, o homem havia entrado em um ônibus com uma faca na última semana para tentar matar a vítima, que trabalha em um supermercado próximo ao terminal.
A mulher, segundo a Guarda Municipal, já está sendo acompanhada pela Patrulha Maria da Penha desde o começo do ano.
Com base nesta notícia, afirmo que os atendimentos realizados na nova sala da Patrulha Maria da Penha devem ser realizados muito próximo ao prédio da DDM. Para evitar que a vítima que acabou de registrar o Boletim de Ocorrência na DDM circule e se exponha aos perigos até chegar ao na nova sala da Patrulha Maria da Penha.
UNIÃO
Penso que a viabilização da construção da nova Delegacia de Defesa da Mulher é urgente! Sua viabilização só será possível se houver união entre os poderes Executivo Municipal, Legislativo Estadual e a Polícia Civil.
NÓS SOMOS A MAIORIA
Nós mulheres somos a maioria da população brasileira e por nós mulheres piracicabanas já passaram a inauguração do BAEP em dezembro de 2019, o 5o DP, o Pelotão Ambiental, a Polícia Federal… Vamos nos unir porque a construção do novo prédio da Delegacia da Mulher de Piracicaba é urgente!
MIREM-SE EM BONS EXEMPLOS
Precisarmos atuar em diversas vias, para além das medidas de segurança, nós precisamos também atender as mulheres vítimas de violência com qualificação profissional, trabalho e renda, porque, sem dúvida, um dos maiores obstáculos para as mulheres que sofrem agressões de seus maridos conseguirem se separar é a dependência financeira. Muitas vezes, as vítimas são esposas que se dedicam à casa e à família e não têm fonte de renda. Sem meio de sobreviver pela falta de dinheiro e com medo de não ter como sustentar os filhos, a única opção acaba sendo continuar no casamento, mesmo estando submetida à violência doméstica.
Exemplo 1: foi pensando nisso que o estado de Rondônia iniciou, no dia 31 de dezembro de 2021, o pagamento das primeiras parcelas do programa “Mulher Protegida”, auxílio financeiro a vítimas de agressões em ambiente doméstico. O benefício, no valor de R$400,00, será pago em seis parcelas.
Exemplo 2: a prefeitura do Rio de Janeiro lançou neste mês de janeiro de 2022 o “Cartão Mulher Carioca”, que concede auxílio financeiro de R$400,00 para mulheres em situação de violência doméstica e vulnerabilidade social atendidas pela rede de enfrentamento à violência na capital fluminense.
Exemplo 3: em outras cidades do país, programas semelhantes também ajudam financeiramente as vítimas. Em Niterói – Rio de Janeiro, é pago um auxílio de R$1.000,00 desde novembro do ano passado. Niterói é atualmente gerida pelo Partido Democrático Trabalhista – PDT, que se esmera de realizar um bom trabalho há vários mandatos consecutivos colocando a gestão municipal da cidade na vitrine da administração pública do nosso país.
Já como programa estadual, Rondônia é pioneiro. Atualmente, outras localidades oferecem programas a mulheres nessa situação, mas na forma de auxílio-aluguel, como ocorre em São Paulo, Maranhão e Goiás. Nesses casos, é pago um valor para que a vítima possa alugar um imóvel e sair da casa do agressor.
MAIS QUE DINHEIRO
Os programas acima foram idealizados para combater os aumentos progressivos dos números de violência doméstica e também oferecem capacitação profissional: as mulheres assistidas fazem cursos de especialização e têm acompanhamento psicossocial. As localidades onde estão vigorando já percebem que as medidas financeiras incentivam vítimas a prosseguir com ações judiciais, como a medida protetiva ou ação penal.
“A violência contra a mulher é um problema social e público grave e complexo. Nós só conseguiremos vencê-lo se o encararmos de frente com a união de todos.”
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Carolina Angelelli, presidente do PDT de Piracicaba.