O papel do técnico esportivo

Hermes Balbino

 

O esporte alcança significado e verdadeiro sentido quando está integralmente inserido no contexto da vida. É fato que os Jogos Olímpicos disputados em Tóquio, ano passado, influenciaram de alguma maneira a vida de milhões de pessoas no mundo, com os feitos dos atletas e as emoções que nos trouxeram. Porém, um personagem que tem participação direta nos resultados conquistados foi muitas vezes deixado em segundo plano – e aqui refiro-me ao técnico esportivo. Temos vários exemplos bem-sucedidos em nossa história olímpica, como os medalhistas Bernardo Rezende, Miguel Ângelo da Luz e José Roberto Guimarães, para citar alguns.

Esses técnicos olímpicos que gerenciam problemas em ambientes esportivos necessitam dispor de várias competências para tratar com os contratempos da arena de competições, e isso se prepara no período de treinamentos, no ciclo de quatro anos chamado de Olimpíada, diferente dos Jogos Olímpicos que são a expressão dos resultados ali alimentados e construídos. Esses competentes profissionais demonstram características relevantes para obter sucesso nos seus projetos esportivos.

O que podemos aprender com esses técnicos para enfrentar os desafios cotidianos? As respostas são muito particulares e individuais. Um técnico esportivo agrega diversos conhecimentos necessários ao exercício de sua função e necessita de recursos, princípios e visão de um vencedor que deseja competir para chegar a um resultado desejado. Formula planos e tem uma meta a ser atingida, sabe onde quer chegar. Tem estratégias para resolver os problemas, mais do que uma solução definitiva para tudo, pois as competições têm alto grau de imprevisibilidade.

Para administrar esse complexo ambiente, os técnicos e treinadores se orientam por três pilares fundamentais, ou seja, resolvem com os atletas e a comissão técnica os problemas que são do grupo, buscando soluções e não culpados; valorizam o conjunto de informações dos vários treinadores e seus conhecimentos para elaborar estratégias de treinos e jogos, pois entendem que o treinamento é um processo sujeito a adaptações constantes, é flexível; buscam tornar as relações do ambiente de trabalho produtivas e construtivas, investindo em relações que têm como resultado a harmonia do grupo de trabalho.

Em um ponto crítico para a construção do desempenho, estimulam o desempenho individual para compor a coletividade, ou seja, trabalham com dois focos que aparentemente são antônimos, como indivíduo e sociedade, mas essencialmente são sinérgicos, demonstrando a importância do olhar para o mesmo ponto, quando as vistas são potencialmente diferentes – os objetivos do técnico, do atleta e do sistema coincidem, o que seria de se esperar do governante, cidadão e sociedade.

Para juntar os pontos, os técnicos demonstram uma ferramenta essencial, têm habilidade em se comunicar, em se fazer entender, explicam as ideias com clareza, e convencem as pessoas de que aquilo as levará ao desempenho máximo. Fica a constatação de que o técnico esportivo do hoje precisa ter um conjunto de competências para dirigir processos de treinamento. Só o conhecimento empírico da modalidade não basta. Esses treinadores de sucesso são pedagogicamente qualificados para tal e demonstram que o treinamento esportivo é um processo de relacionamentos, de gestão de pessoas.

O significado humano e educativo do esporte, que muitos julgaram não existir, torna-se claro e perceptível quando cada elemento que participa de seu contexto avança nas suas capacidades e habilidades, transcendendo o físico, o lógico e o previsível. O papel do treinador ou técnico esportivo, foco de nossas investigações, atinge a dimensão de influenciar profundamente comportamentos, atitudes, princípios e valores dos atletas, como Jorge Bento (1999) afirma. Enfim, queremos ter em nossa bússola a promissora premissa de que o esporte educa para a vida.

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Hermes Balbino, secretário de Esportes, Lazer e Atividades Motoras de Piracicaba

 

 

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