João Ribeiro Junior
Servir da História como lição, como fazem aqueles que veem no passado situações e exemplos que devem ser evitados ou repetidos nos dias de hoje, é estudar uma história de conceitos superados. O uso da História como lição de moral ou de experiências negativas e positivas só pode ser qualificado como ridículo. O julgamento do passado configurado num verdadeiro Tribunal do momento,condenando ou elogiando indivíduos e classes sociais como se fosse possível julgar as coisas e seres acontecidos com os conceitos e preconceitos do presente. É da maior importância entender-se que lecionar ou estudar a História implica fundamentalmente em reconstituição das épocas que se pretende analisar com seus componentes gerais, situações e possibilidades dos fatos e homens em foco. Muitos descobrem no conhecimento da história as armas da quiromancia, isto é, recurso para a previsão do futuro próximo ou remoto. Aqui a trilha éatraente e exerce poderosa tentação. Quantos prejuízos de formação intelectual e científica! Refiro-me,sobretudo, aos marxistas, que com seu “materialismo dialético histórico”, com respostas já prontas,buscaram (ainda buscam) no passado apenas trechos que aparentemente as justificam. Então não houve gente que iludiu moços e velhos com a invenção de uma aliança entre burguesia nacional e o proletariado no Brasil contra o imperialismo e pelo desenvolvimento. Provaram eles a existência dessas duas classes configuradas como tais, conscientizadas para isso? Não!Limitaram-se a publicidade dos conceitos sem quaisquer bases científicas. Um desses chegou a afirmar da impossibilidade de êxito de um golpe de direita ou esquerda no país. Muitos acreditaram. Depois, a amarga desilusão. Ora, o máximo que se permite o estudo do passado é o entendimento de certas situações do presente.
Por último, lembro uma fobia. O temor de ensinar a história do passado recente e do presente. Além de razões óbvias – o desconhecimento dos fatos atuais por não estarem incluídos nos livros oficiais e o natural receio pela discussão presente – outras há que são como um biombo pseudocientífico. Dizem. “Não existem documentos para comprovar”,” não há referências claras”, etc. Nada melhor do que relatar um debate que assistimos, quando um conhecido professor e autor defende as argumentações acima citando o exemplo da impossibilidade de se analisar oque , por exemplo,o ex-presidente Jânio Quadros, ou o ex-presidente João Goulart e mesmo as verdades e as mentiras da “Comissão da Verdade” em relação do que aconteceu nas décadas do contragolpe militar, que impediu o golpe da esquerda revolucionária. Lembro, também, que sobre os fatos atuais existem mais documentos, referências e riquezas de meios do que as histórias das tentativas dos anarquista e comunistas, em conjunto, em oposição aosintegralistas, tomarem o poder, apenas para exemplificar.
Vale acrescentar que o ensino de História é sempre muito prejudicado nas áreas onde se instalam regimes totalitários, ditatoriais, de direita ou de esquerda que se opõem à história porque não tem interesse em justificar objetivamente sua ascensão ao poder e suas decisões. Ela lhes é adversa. Explicando com mais coerência, é indiscutível que em cada época se reconstitui o passado novamente segundo os condicionantes de cada momento. Assim, no caso, aos elementos conservadores que dominam o poder essa reformulação não interessa à luz de novos condicionantes, pois eles mesmos representam forças anacrônicas à realidade.
Para concluir, que vinculações se podem firmar entre o ensino da História e a atual situação brasileira? Simplesmente, através dele, pesquisar o passado remoto e próximo na busca da explicação e da compreensão da presente realidade, nos seus aspectos políticos, econômicos e sociais, nunca isoladamente, sempre com suas implicações e conotações internacionais. Parece pouco, mas é muito e é o correto. As lições de moral da história para os moralistas. A adivinhação do futuro para aqueles que querem o poder, com suas críticas hipócritas do presente. É a velha história, “se estivéssemos no poder, hoje, tudo seria diferente”. Não haveria nenhum problema, se pensassem no futuro e não ficar comparando o presente com o passado na busca de comparações ideológicas. Sendo, que o passado é mais importante que o futuro. Só porque o atual presidente é um capitão. A oposição continua fazendo suas críticas, esquecendo-se o quanto ele já fez para o futuro. E o mais importante, sem corrupção.
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João Ribeiro Junior, advogado (USP), docente de Direito Constitucional e de Teoria Geral do Estado e Ciência Política e História, doutor em Educação, mestre em Filosofia (Unicamp)