Rodolfo Capler
A afirmação histórica dos Direitos Humanos é um fenômeno recente, surgindo nos movimentos revolucionários dos séculos 17 e 18. De lá para cá, a tradição dos direitos humanos sempre encontrou opositores, seja à direita (como é o caso do neoliberalismo que localiza os direitos humanos como obstáculo à racionalização da lucratividade do livre-mercado), ou à esquerda (através da matriz do comunismo ortodoxo, que enxerga os direitos humanos como encobrimento da estrutura de classes e como direitos das classes dominantes).
Mesmo diante de ataques, aqui e acolá, o ideário dos direitos humanos se solidificou nas democracias liberais. Após a morte de cerca de seis milhões de judeus nos campos de extermínio, durante a Segunda Guerra mundial e de tantas outras atrocidades e morticínios causados pelo conflito, os direitos humanos foram afirmados, em 1948, como política de Estado em todas as nações democráticas do mundo, por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Entretanto, apesar do estabelecimento do Estado de Direito e de uma “cultura de direitos”, numa estrutura jurídico-legal, o ideário dos direitos humanos tem sido atacado de forma descomunal na atual conjuntura política mundial.
Vemos isso muito forte, por exemplo, aqui no Brasil. Não é incomum ouvirmos ou lermos nas redes sociais, gritos enraivecidos encampando as seguintes máximas: “Direitos Humanos é direitos dos manos”, ou “Direitos Humanos para humanos direitos”. No campo da política nacional, os direitos humanos são atacados a todo momento por parlamentares, tanto em discursos quanto na proposição de leis e sobretudo pelo presidente Jair Bolsonaro, que sempre demonstrou desprezo a qualquer discurso humanitário.
Além dos ataques desferidos aos direitos humanos, no Brasil a mídia sensacionalista tem os atrelado (desde os anos 80), ao espectro político das esquerdas, quando na verdade, os direitos universais dizem respeito a todas as pessoas em todos os lados do espectro ideológico. Precisamos renovar o entendimento do que são os direitos humanos no Brasil. Somente assim, alguma mudança positiva poderá ser avistada num horizonte próximo em nossa nação. Este é o primeiro passo.
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Rodolfo Capler, teólogo, pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP, autor do livro “Geração Selfie” (2021)