Rodolfo Capler
“Jesus foi uma grande pensador.”Defrontei-me com esta afirmação, aos 18 anos de idade, enquanto lia “A conspiração divina” de Dallas Willard, filósofo e professor da Universidade do Sul da Califórnia. A afirmação de Willard, antes de tudo, me soou surpreendente e ao mesmo tempo provocante, pois comumente pensamos em Jesus como um grande mestre da moral, ou como um mestre muito piedoso, mas raramente como um homem do pensamento.
Segundo os relatos dos Evangelhos, Jesus fora um homem do cultivo da mente. Como rabino em sua época, memorizou todo o Antigo Testamento, tanto que o citou em inúmeras vezes, todas registradas pelos autores do Novo Testamento. Como grande líder religioso, Jesus se destacava de seus pares por debater assuntos controvertidos com grande maestria. Ele discorreu inúmeras vezes sobre a vida pós-morte, falou sobre ética e moralidade, ensinou sobre o tipo de relação que as pessoas de fé deveriam ter com as autoridades políticas e também discursou sobre os lírios do campo e sobre as coisas simples da vida. Isso tudo fazia dele (com o perdão do anacronismo), um verdadeiro intelectual – de acordo com a teoria de Steve Fuller, em seu livro “O intelectual”.
Jesus anunciava um Reino de paz, fazendo interpretações teológicas da Bíblia Hebraica, dialogando com seus oponentes de forma cerebral, tanto que, de acordo com o apóstolo João, os “gregos” queriam conhecê-lo. Sem treinamento formal, Jesus seria considerado hoje, um “intelectual autodidata”, visto que além de ter ser um mestre da religião judaica, falava fluentemente, hebraico, aramaico, latim e grego. O teólogo Richard A. Horsley, autor da magistral obra “Jesus e a espiral da violência”, sustentara durante sua estadia no Brasil, que Jesus pregou todos os seus sermões e proferiu todos os seus discursos a partir do idioma grego.
Hipóteses à parte, Jesus foi um homem que manifestou o bem por meio do desenvolvimento de sua mente. Em resposta a um teólogo judeu que tentou pô-lo à prova – conforme o relato do médico Lucas -, Jesus afirmou ser necessário amar a Deus, não só de todo o coração, de toda a alma e com todas as forças,mas igualmente, com todo amente.
Indubitavelmente, Jesus foi uma das maiores personalidades da filosofia, pois além de fornecer grandes respostas, propôs grandes perguntas. Ele praticou o amor com a inteireza do seu intelecto, sendo um grande exemplo para todos nós.
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Rodolfo Capler, teólogo, escritor, pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP; e-mail: [email protected]