Educação para as relações étnico-raciais e a emergência de uma outra cultura

Adelino Francisco de Oliveira

 

Ao menos no decorrer do mês de novembro a temática da educação para as relações étnico-raciais ganha maior espaço de debate e reflexão. As escolas se organizam para promover discussões e palestras abordando racismo e preconceitos. Semanas da consciência negra passam a ser organizadas em diversas instituições comprometidas com a formação. Mas esse movimento que pode ser esporádico revela-se insuficiente para enfrentar um assunto que deveria estar na pauta do país de maneira definitiva e cotidiana.

A educação para as relações étnico-raciais ainda precisa avançar muito, tornando-se o centro de uma revolução cultural que o Brasil tem urgência que aconteça. A educação é o caminho para que uma outra humanidade desponte e emerja. Ninguém nasce racista ou cheio de preconceitos. Tais posturas, profundamente nefastas, são paulatinamente ensinadas, por meio de uma cultura que tende a naturalizar a formação ao ódio racista e à etnofobia.

A construção ideológica de que o Brasil é uma democracia racial precisa ser denunciada e desmascarada. Essa talvez seja a primeira das grandes fakenews que tomaram o país, impedindo a elaboração de uma compreensão mais crítica e lúcida sobre a própria dinâmica das relações sociais, éticas e políticas. É preciso reconhecer, de maneira oficial e pública, que o Brasil é um país profundamente racista e tomado por toda sorte de preconceitos. Reconhecer o mal, a doença, é um passo fundamental para o processo histórico de reparação e reconstrução social.

O racismo estrutural e institucional deve ser enfrentando por meio de políticas públicas, capazes de formatar uma nova configuração social, gerando uma outra sociabilidade, agora pautada na ética da alteridade,no reconhecimento da dignidade humana. O Brasil precisa reconhecer e resgatar a imensa dívida social histórica que tem com a população preta. Revelam-se fundamentais a implementação de políticas públicas que garantam equidade, representatividade e combatam o perverso processo de exclusão social.

A educação para as relações étnico-raciais precisa trazer para a sala de aula e demais ambientes formativos o conhecimento profunda das dinâmicas culturais do fascinante continente africano. Conhecer a complexidade cultural de Mãe África é imprescindível para a superação de um pensamento colonizado. A maneira de pensar e conceber a vida; as narrativas míticas, com a riqueza simbólica da mitologia dosOrixás; o lugar e dignidade da ancestralidade; a produção de um conhecimento qualificado, base para a produção de avançadas tecnologias; a ética existencial que brota da força do conceito ubuntu; a postura diante do mistério da vida e da morte, em uma cosmovisão que integra humanidade e natureza. Dimensões invisibilizadas de uma África profunda, fonte de redenção para a humanidade.

As pautas formativas sobre africanidades revelam-se fundamentais para a construção de uma consciência não fragmentada, capaz de apreender as raízes também africanas da identidade do povo brasileiro. A construção de um pensamento decolonial, crítico à estreita visão de mundo de uma branquitude alienada, e de uma cultura antirracista é a tarefa urgente e necessária para que o povo brasileiro se reencontre, em uma sociabilidade aberta, diversa e profundamente criativa.

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Adelino Francisco de Oliveira, Doutor em Filosofia. Mestre em Ciências da Religião; Professor no Instituto Federal, campus Piracicaba; [email protected]; @Prof_Adelino_; professor_adelino

 

 

 

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