Rodolfo Capler
Resolvi escrever este pequeno artigo, para expressar minha preocupação (e quem sabe), alertar muitos, de um mal chamado inveja. Para começo de conversa, precisamos entender basicamente o que é a inveja. Segundo a definição de muitos profissionais da área terapêutica, inveja ou invídia, é um sentimento de tristeza perante o que o outro tem e própria pessoa não tem. O grande filósofo Tomás de Aquino a definiu como “tristeza pela alegria do outro”. Em outras palavras, a inveja é um sentimento ruim que leva as pessoas a se entristecerem com as qualidades, conquistas e posses de outrem.
A inveja é o vicío mais sutil e sorrateiro de que se possa ter ideia. Digo isso pois, muitos não terão dificuldade alguma em confessar ou admitir qualquer tipo de pecado, afora a inveja. Nunca ouvi alguém afirmar: “Sou invejoso!”. Salvas raras exceções, não temos muita dificuldade em assumir que somos mentirosos, avarentos, preguiçosos, licenciosos ou maledicentes. Agora, confessar que se é invejoso é outra história… A admissão de tal realidade quebra o nosso orgulho e nos humilha.
A grande verdade é que todos nós abrigamos inveja em nossos corações. Sustento essa afirmação, dando um belo e familiar exemplo. Dê um giro pelas redes sociais on-line e verás a inveja gotejando pelo visor de seu computador, tablet ou smartphone. São posts e mais posts carregados de críticas gratuitas e infundadas contra pessoas conhecidas por algum sucesso aparente. São comentários inflamados à postagens despretensiosas. Como bem resumiu um clérigo amigo meu: “O dedo tecla o que o coração está cheio” – paráfrase moderna para as palavras de Jesus que diz que “a boca fala do que está cheio o coração”.
A inveja é um pecado do espírito, ou como disse o Papa Gregório I (Catalogador dos 7 Pecados Capitais), um pecado frio, que não se expressa ou se manifesta na carne. Ou seja: é um vício da alma que pode ser ocultado e facilmente travestido de uma peja de humildade, mas que destrói qualquer um por dentro. Para Salomão, o grande sábio, a inveja é a podridão dos ossos do próprio invejoso…
Isso tudo que estou escrevendo – volto a dizer -, é para expressar a minha indignação em relação ao aumento de manifestações de inveja, sobretudo nas redes sociais e também para alertar quem quer que seja, sobre esse mal. Termino convidando você a uma sincera reflexão sobre este tema. Podemos fazer isso respondendo a algumas perguntas básicas. Por exemplo: “Você sinceramente se alegra com o sucesso de pessoas que lhe são próximas ou isso te desmotiva?”. “Você é alguém que elogia gratuitamente os outros pelos seus feitos, qualidades e conquistas ou tem maior tendência em ver defeitos e erros nas façanhas alheias?”. E por último: “Você é alguém que se sente motivado a crescer pessoalmente com as vitórias dos outros ou se irrita quando alguém compartilha ou publica nas redes sociais, algum tipo de vitória pessoal?”. As suas respostas revelam se você foi ou não mordido por esse mal chamado inveja.
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Rodolfo Capler, teólogo, escritor e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP