Simob: mobilidade ativa amplia elo com a cidade

Evento foi transmitido ao vivo pelo Zoom e pelo canal da Escola no YouTube – CRÉDITO: Reprodução/Internet

Está ao alcance das mãos —e também dos pés— uma realidade com menos veículos nas ruas, menor poluição e economia de tempo com deslocamentos. O passo que separa as cidades do futuro atende pelo nome de “mobilidade ativa” e traz ganhos para o trânsito dos centros urbanos e na relação que seus habitantes têm com o lugar onde vivem.

O investimento, pelo Poder Público, em ações que estimulem as pessoas a se locomoverem a pé ou por meios que demandam esforço humano —como bicicleta, patinete ou skate— foi defendido por três especialistas que participaram de live promovida pela Escola do Legislativo, da Câmara Municipal de Piracicaba, na tarde desta terça-feira (21).

O evento fez parte da programação da Simob (Semana Integrada da Mobilidade de Piracicaba) e foi realizado em parceria com a Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo). Professor na instituição, Ciro Righi mediou o debate junto com a vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade é Sua.

A parlamentar dirige a Escola do Legislativo, órgão da Câmara que, junto com o Fórum de Educação para o Trânsito, coordenado pelo vereador Gustavo Pompeo (Avante), colabora com a organização da Simob, cujas atividades discutem, até o próximo sábado (25), temas como o transporte público e o planejamento urbano na cidade.

Engenheira civil com especialização e mestrado em habitação e urbanismo, Silvia apontou como “improvisos” na gestão do município geraram uma cidade que foi se “espraiando”, com reflexos na qualidade do transporte público. Ela observou que Piracicaba “ainda está concluindo seu Plano de Mobilidade Urbana, que é de 2006”. “O Legislativo tem papel importante nessa reflexão e nesses projetos”, comentou a vereadora.

Mauro Calliari, autor do blog “Caminhadas Urbanas”, no Estadão, defendeu diminuir a dependência do transporte individual, com medidas que gerem “grande vantagem para quem anda de transporte coletivo” e criem “desincentivos para o automóvel”. Para o urbanista, estimular o deslocamento a pé reforça o elo entre pessoas e cidade.

“Se temos o mínimo de segurança e de infraestrutura, andar a pé pode ser uma experiência muito prazerosa. A cidade é o lugar do encontro: o pé é o que possibilita que a senhora ande com a bengala até a farmácia e encontre a vizinha na volta”, refletiu, para em seguida traçar uma perspectiva sobre Piracicaba.

“Nas cidades médias, ainda temos a chance de a mobilidade não ser a consequência, mas também indutora do crescimento econômico e do desenvolvimento. Um exemplo é Curitiba [PR], que, com o Plano Diretor da década de 1960, começou a trabalhar o planejamento estratégico e hoje é referência nisso.”

“A população de Curitiba em 1968 era de 400 mil habitantes, exatamente a população hoje de Piracicaba, que tem a chance de pensar no futuro, com o Legislativo como órgão que vai ajudar a cidade a pensar, com pelo menos essas diretrizes, de andar a pé, integrar com a bicicleta, o transporte público”, afirmou Calliari.

Arquiteto e urbanista, Victor Andrade apresentou o conceito de “caminhabilidade”, mensurado, inclusive, por um índice criado por ele no Labmob, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). A ferramenta usa aspectos como segurança viária e atratividade para dizer se as condições para pedestres são favoráveis em determinado local.

“Temos uma cultura ‘carrocêntrica’. As cidades são desenhadas para a velocidade dos veículos motorizados. É urgente redesenhá-las e tornar a mobilidade ativa prioritária”, disse, apontando que o planejamento urbano está ligado às políticas de saúde. “Por que não utilizarmos o deslocamento diário para promover a atividade física?”, pontuou.

Andrade listou os impactos positivos de medidas que estimulam a mobilidade ativa, como a transformação de vias em exclusivas para a circulação de pedestres, e seus reflexos em tornar as cidades “mais cosmopolitas, diversas e tolerantes”. “É a experiência do pedestre e do ciclista, que cheiram, sentem a cidade, olham o próximo, o outro cidadão: vivenciar e tolerar o diferente.”

O professor da UFRJ defendeu a importância de o planejamento ser integrado dentro das metrópoles —condição hoje vivenciada por Piracicaba. “Os municípios acabam competindo entre eles ao invés de trabalharem como num consórcio, e isso na mobilidade é desafiador. Eles ganhariam muito ao pensar de forma regional e sistêmica. Piracicaba tem papel importante, de centralidade na região. Seria importante que os municípios trabalhassem juntos, precisamos da proatividade deles”, declarou.

Antonio Nélson Rodrigues Silva, professor da Escola de Engenharia da USP (Universidade de São Paulo) de São Carlos (SP), mostrou o impacto da pandemia no transporte público. “Em termos de sustentabilidade econômica, tem uma implicação séria. Nas principais cidades do país, muita gente deixou de usá-lo”, disse, ao comentar dados que apontam crescimento no uso de automóveis em 17% nos grandes centros e de queda de 6% nos deslocamentos por ônibus.

Com menos gente optando pelo transporte público, aumentam as chances de o serviço piorar, segundo o professor. “Então reduzem a oferta, mas aumenta a espera máxima do usuário. Se mexe na oferta, necessariamente vai comprometer a qualidade”, afirmou Nélson, acrescentando que a redução da demanda repercute também na alta da tarifa para custear o serviço.

O evento desta terça-feira foi realizado por meio da plataforma virtual Zoom e retransmitido pelo canal da Escola do Legislativo no YouTube. A Semana Integrada da Mobilidade de Piracicaba é promovida pela Escola e pelo Fórum de Educação para o Trânsito em parceria com a Esalq-USP, a Semuttran (Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana, Trânsito e Transportes) e o Sest/Senat (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), com o apoio do Grupo Multidisciplinar de Educação Ambiental de Piracicaba.

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