O soldado Caxias

Camilo Irineu Quartarollo

 

Erguem-se aos heróis monumentos nas praças, ainda que não se avisem as pombas. A vida de uma pessoa em seu contexto histórico tem mais que uma simples estátua equestre.

Caxias é patrono do Exército. A guerra contra o Paraguai foi o seu ponto alto como militar em nome do império de D. Pedro II, com quem tinha intimidade.

Lima e Silva em suas cartas de 1867, guardadas no Museu Mitre, em Buenos Aires, e levantadas no livro de Júlio José Chavenato, Genocídio Americano: A guerra do Paraguai, traz sombras e luzes sobre esse personagem. Em geral, os livros trazem um histórico de ascensão de um cadete já aos cinco anos e de toda uma carreira eivada de sucessos. Contudo, as cartas do então Marquês de Caxias a D. Pedro II demonstra, além de exímio estrategista um Caxias mais humanizado. O patrono do soldado brasileiro não é um combatente genocida. Lima e Silva posiciona-se contra uso das armas para aniquilar uma nação indefesa, mas o estado de guerra é para vencer e tomar posições geográficas e políticas, sem destruir outra nação.

Nas cartas, Caxias teme e prevê um eventual morticínio da nação guarani. Chavenato afirma que os fatos narrados nessas cartas se identificam plenamente com o desenvolvimento da guerra, até em detalhes com outras fontes, especialmente com as argentinas e interpretações de observadores europeus do mesmo período e assunto.

Lima e Silva mantém relação de respeito à sua tropa e não menospreza os adversários em campo de batalha.

Caxias reconhece a bravura do exército guarani, que não é de mercenários pegos ou contratados. Reporta ao imperador a movimentação rápida do exército de Solano Lopes. Tal preparo do Paraguai fica patente no relato da Retirada da Laguna escrito pelo Visconde de Taunay, no recuo desesperado dos brasileiros à fronteira de Mato Grosso.

Simplesmente avançar a fronteira não faria do Brasil vencedor, pois lutar nesse terreno favorecia ao inimigo preparado e com bravura indômita até a morte, do último homem e da última criança. Os temores de Caxias são de que as divisões mais distantes possam ser feitas reféns, que os paraguaios definam a guerra. Caxias escreve que não quer conquistar um cemitério e matar crianças na barriga da mãe, tal a resistência paraguaia.

Não se sabe como D. Pedro II recebeu essas fortes observações de Caxias, mas Lima e Silva se retira da guerra depois de chegar vitorioso à Assunção. Nas cartas, aconselha a D. Pedro que imponha a política do Império e reconheça a soberania do Paraguai, para um armistício. Contudo, José Júlio Chiavenato diz que a cláusula secreta da Tríplice Aliança é para a destruição do Paraguai e não à rendição do inimigo.

Após a retirada de Caxias, o genro de D. Pedro, Conde D’eu, toma o comando e arrasa um país vencido. Eis o cemitério previsto por Caxias. O Paraguai está destruído, desolado, o Brasil com a maior dívida desde a Independência. Quem ganhou com a guerra? Os bancos ingleses.

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, autor do livro A ressurreição de Abayomi

 

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