Apeoesp/Vox Populi: pandemia escancara a omissão do Estado com a educação

A pesquisa foi apresentada em entrevista coletiva on-line, pela diretora do Vox Populi, Marta Maia, e coordenada pela deputada Professora Bebel – Crédito: Divulgação

Professores e alunos da rede estadual de ensino foram largados à própria sorte pelo governo do Estado durante o período do ensino remoto. É o que aponta pesquisa realizada pela Vox Populi, em parceria com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), com professores, alunos e pais. Eles alegam que não tiveram apoio do poder público para desenvolver as aulas remotas, conforme a pesquisa apresentada na de sexta (30), em live coordenada pela presidenta da Apeoesp, a deputada estadual Professora Bebel (PT). A apresentação foi feita pela diretora do Vox Populi, Marta Maia.

De acordo com o resultado da pesquisa, as aulas virtuais foram reprovadas pela comunidade escolar, sendo 66,9% pelos professores, 74,7% pelos pais  e 73,9% pelos alunos, mas, mesmo assim, 85,6% dos professores, 81,8% dos pais e 76,1% dos alunos têm medo da contaminação pela Covid-19 no retorno precipitado às aulas presenciais, marcado para esse próximo dia dois de agosto.

Para os professores, houve mais trabalho, segundo 49,2% dos entrevistados, chegando a jornadas de até 10 horas. Em contrapartida, os alunos estudaram menos segundo 87,3% dos pais, o que foi confirmado pelos estudantes do ensino médio: 84,1% declaram ter se dedicado menos às aulas virtuais. Na média, os pais afirmam que seus filhos estudaram apenas 2,5 horas por dia.

A presidenta da Apeoesp avalia que a falta de apoio do governo estadual foi a responsável por essa aparente contradição. “A pesquisa apontou que menos da metade dos professores teve treinamento mínimo para dar aulas pela internet. Eles precisaram se reinventar para transmitir os conteúdos aos alunos. O resultado foi uma jornada de trabalho maior, sem a remuneração adequada, enquanto alunos, sem equipamento ou acesso à internet, ficaram menos tempo em aula, com prejuízo claro à sua formação”, afirma a Professora Bebel.

Segundo a pesquisa, mais da metade dos entrevistados declaram que não receberam do poder público infraestrutura física para trabalharem ou estudarem remotamente, como equipamentos de TI, pacote de dados para acesso à internet ou mesmo help desk do governo ou da escola para as aulas remotas. Entre os pais de alunos, essa reclamação chega a 73,8%, ou seja, dois terços. Entre os alunos do ensino médio, 63,2% também não teve este apoio e, entre os professores, 54,3%. Ainda segundo os pais de alunos, 15,1% dos filhos deixaram de estudar por falta de acesso à internet ou para trabalhar e ajudar na renda da família.

As dificuldades também estavam nas unidades escolares sem estrutura para aula remota. Segundo 50,5% dos professores ouvidos, em plena era da tecnologia, as escolas onde trabalham não têm disponíveis para aulas salas com acesso à internet, computadores ou câmeras de vídeo. Este índice sobe para 70,2% na percepção de pais e 61,5% na avaliação de alunos do ensino médio.

PELO CELULAR

Entre os estudantes de ensino médio, a pesquisa mostrou que 42,5% não têm acesso a computadores. A grande maioria (94%) teve disponível o celular para acompanhar as aulas virtuais, muitas vezes compartilhado com outro membro da família. “A situação da escola pública no Estado de São Paulo já era precária antes da pandemia, que só escancarou o problema. Precisamos de uma revolução para recuperar o déficit educacional que já existia e piorou com a pandemia. E qual é o planejamento do Governo para isso? Ninguém sabe”, afirma a presidenta da Apeoesp.

A pesquisa ouviu 3.600 pessoas em todo Estado, entre professores (1.500), pais de alunos (1.500) e estudantes de ensino médio (600), entre junho e julho deste ano. O estudo tem recortes por capital, região metropolitana e interior, e também por níveis de ensino – educação infantil, ensino fundamental e médio. O objetivo foi levantar os impactos da pandemia na educação pública.

RETORNO

Para a Professora Bebel, o retorno das aulas presenciais deve ser precedido  dos profissionais da educação vacinados com a primeira e segunda dose e se aguardado o intervalo de 14 dias para a imunização, assim como garantir que as condições mínimas nas escolas, com as salas de aulas tendo ventilação adequada e esse período vai exigir muita higienização, até porque levantamento realizado pela Apeoesp mostra que 82% das escolas não tem  mais que dois banheiros e duas pias. “Espero que o governo reflita bastante e, ao mesmo tempo, repense o retorno, fazendo uma avaliação diagnóstica primeiro, analisar o currículo e dar uma virada na educação pública brasileira, transformando estruturalmente”, completa Bebel.

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