Alvaro Vargas
Durante a Guerra Civil espanhola (1936-1939), que deixou mais de 150 mil mortos, o espírito Emmanuel psicografou uma mensagem (Deus Conosco, pg. 92-94, Chico Xavier, 1936), relacionando esse evento, com o carma adquirido pelos espanhóis, durante a inquisição. Fundado pelo Papa Inocêncio IV, da igreja Católica Romana, o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, foi instituído na Espanha em 1478, por Fernando II de Aragão e Isabel de Castela, que se sujeitaram às exigências e pressões da igreja naquela época. Embora esses reis católicos tivessem reservas quanto à inquisição, ao permitir a sua implementação, se tornaram moralmente responsáveis por essa decisão, que só foi suspensa em 1834. Essa ação lamentável, através de uma política conhecida como “limpeza de sangue”, teve como objetivo converter ao catolicismo, judeus e muçulmanos, por meio da coação. Ao longo dos séculos, a inquisição espoliou os bens de milhares de pessoas, torturando-as nas formas mais bárbaras possíveis, e as conduzindo a morte. Muitos dos espíritos, de indivíduos que assistiram à família inteira ser tortura e queimada nas fogueiras, não conseguiram superar esse trauma, e ainda hoje, do mundo espiritual, procuram obsidiar os cristãos, os quais consideram responsáveis por suas desditas (Transição Planetária, Manoel P. Miranda e Divaldo Franco).
De acordo com a justiça divina que rege o universo, somos responsáveis pelos nossos atos, e as provas expiatórias necessárias ao nosso processo evolutivo se aplicam aos indivíduos e as nações conforme as responsabilidades individuais e coletivas. Deus nos concedeu o livre arbítrio, mas associado a isso existe a “Lei de Ação e Reação”, na qual a semeadura é livre e a colheita é obrigatória. Embora exista o carma individual, em muitos eventos lamentáveis que estão registrados em nossa história, os indivíduos não agiram de forma isolada, estabelecendo com outras pessoas vinculações criminosas, em graus variáveis de participação. Com relação à Guerra Civil, a Espanha é a região do planeta onde os dogmas dos bispos romanos encontraram mais guarida e maior amplitude, e esse conflito teve as suas causas nos delitos da organização inquisitorial, perpetrando crimes dessa natureza, como em nenhuma outra nação do mundo. O carma espanhol se agravou, devido às guerras empreendidas, entre elas, a formação da “Armada Invencível”, infeliz organização criada por Felipe II, tendo sido necessária a intervenção espiritual, fazendo-a soçobrar nas costas da Inglaterra (Emmanuel, in Op. cit.).
A destruição da cidade basca de Guernica, onde pereceram 1.647 pessoas, e os massacres que foram registrados durante esta guerra, chocam os estudiosos, que questionam como esses eventos possam ter ocorrido em uma nação repleta de igrejas e de conventos, povoada de organizações religiosas. É certo que Deus, na Sua bondade infinita, não é indiferente às desgraças e sofrimentos humanos, porém são experiências corretivas, necessárias para a depuração das iniquidades dos espíritos. A justiça divina é explicada pelo Espiritismo, que comprova a existência da vida após a vida, e esclarece o mecanismo reencarnatório, no qual regressamos à Terra, conforme as nossas necessidades de provas e expiações. Todos aqueles que ao longo dos séculos participaram de forma direta ou não, das guerras provocadas pela Espanha, e da inquisição da igreja romana naquele país, criaram uma vinculação entre si, gerando um carma coletivo que se depurou durante a Guerra Civil. Assim, conforme o adágio popular de que “o criminoso sempre regressa ao local do crime”, todos os envolvidos: governantes, políticos, inquisidores, jornalistas, generais, soldados e demais cidadãos que apoiaram as guerras e a inquisição, regressaram em nova roupagem carnal, vivenciando os mesmos sofrimentos que provocaram aos seus semelhantes em existências passadas.
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita