Gerar uma vida é um dos momentos mais significativos para uma mulher. E a forma como uma criança chega ao mundo, fará do instante do parto uma experiência marcante. Melhor é ter o momento marcado pelo parto humanizado, onde a mulher tem controle sobre como e em qual posição deseja e se sente confortável para o nascimento do seu bebê. Nesse processo tão significativo, destaca-se a função de doula. Palavra de origem grega, doula se traduz por “mulher que serve”, ou seja, aquela que ajuda grávidas na gestação, no parto e também após o nascimento do bebê. E neste sábado (22), O Canal da Lili está Linkado com: doula Grazi Mendes, que na foto em destaque está com Sirlene Campos e Alice, mãe e filha, com destaque para a placentea. Confira a entrevista de Graziela Mendes Santos da Silva, 43 anos, doula e agente comunitária de saúde.
Quantos filhos você tem, como foi o nascimento deles e como surgiu a função de doula?
Sou mãe de três filhos nascidos por cesáreas desnecessárias, que eu não queria, mas não tinha informação nem para questionar o médico a respeito de sua decisão. Sou agente comunitária de saúde na Unidade de Saúde da Família Boa Esperança I, há quase 10 anos. Sempre gostei de trabalhar com gestantes. Sempre achei importante cuidar do nosso futuro, os bebês. Sou doula há quase 3 anos, e depois da formação, passei a olhar para as gestantes de maneira diferente. Passei a ver as mulheres por trás das gestantes. Hoje, trabalho para levar informações ao máximo de gestantes que eu possa alcançar. Mostrar a elas o direito que têm de participar das decisões a respeito de sua gestação e parto. E assim, facilitar a experiência de um parto positivo
Como é a formação e quais são as funções desempenhadas por uma doula?
Existem diversos formatos de formação. On-line, imersão, presencial, 40 horas, 80 horas. Eu fiz minha formação em Piracicaba, no Espaço Essência do Ser, em novembro de 2018, num total de 40 horas. Mas a formação é só o começo. Depois disso, já fiz inúmeros cursos: Noções de obstetrícia para doulas (com o obstetra Braulio Zorzella); Doula pós-parto; Facilitadora em amamentação; Educadora perinatal; Capacitação para atendimento em tempos de Covid. Ser doula é estudar sempre para conhecer as mais novas evidências científicas. A doula é uma profissional treinada para oferecer apoio informacional, emocional e físico à gestante. Durante a gestação, trabalha com gestante e acompanhante, facilitando a busca por informações de qualidade e baseadas em evidências científicas. Conversa sobre fisiologia de parto, tipos de parto, violência obstétrica. Monta com a gestante seu plano de parto. No parto, está à disposição da gestante. Para aliviar a dor com técnicas próprias, para apoiar e acolher, para respirar junto, para acalmar o acompanhante, para lembrar de tomar água e descansar entre as contrações. No puerpério, auxilia com os cuidados com o bebê, amamentação e dificuldades emocionais do período. A doula não realiza nenhum procedimento técnico como exame de toque, ausculta do bebê.
Esses serviços estão disponíveis a todas as mulheres, inclusive no SUS?
Infelizmente não. A função ainda é pouco conhecida, e muito elitizada. Mas existem várias ações pelo Brasil, para tentar levar as doulas ao SUS. Aqui em Piracicaba, como trabalho como agente comunitária de saúde pelo SUS, acabo conseguindo levar esse serviço às mulheres atendidas na minha unidade. Desde minha formação, faço grupos de gestantes e levo todo o conceito de humanização no atendimento a elas. Em 2019, junto com outras doulas da cidade, levamos esse nosso trabalho a algumas unidades de Atenção Básica do município e também participamos de um encontro com profissionais de saúde de Piracicaba e região. Fizemos palestras, apresentando nossa função e discutindo mudanças do atendimento ao pré-natal nas unidades de saúde e maternidades. No ano passado, com o início da pandemia e a impossibilidade de continuar com os grupos presenciais, eu levei o grupo para o virtual. Montei um grupo no WhatsApp, onde coloco vídeos e textos explicativos e promovo discussões e tiro dúvidas. Com o sucesso do grupo virtual, estou em busca de levar esse formato para mais gestantes do SUS no País todo. Para isso, lancei um grupo gratuito para as gestantes e uma campanha de financiamento coletivo na plataforma Apoia-se para que eu consiga viabilizar o atendimento a até 200 gestantes. É um sonho que estou tentando transformar em realidade.
A partir de quando a mulher pode ter o acompanhamento de uma doula? Como tem sido isso na pandemia?
A doula pode acompanhar toda a gestação, informando, apoiando, esclarecendo. A maioria das mulheres pensa em uma doula quando começa a pensar no parto. Por volta de 30 semanas. Esse é um bom prazo para que doula e gestante possam estabelecer uma relação de confiança. Quando a pandemia começou, as doulas foram proibidas de entrarem nos hospitais, para diminuir o número de pessoas durante o parto. A maioria de nós teve de aprender a trabalhar virtualmente. E o acompanhamento na gestação, preparando a mulher e seu acompanhante ganhou uma importância ainda maior.
O acompanhamento com uma doula ajuda no processo de amamentação, durante o período de puerpério?
Durante a gestação, já começamos a preparar gestante e acompanhante para a amamentação e puerpério. Esse período é bem desafiador e a mulher precisa de muito apoio e acolhimento. Preparar para as coisas práticas que ajudam a tornar o período mais leve, faz muita diferença. Mostrar a essa mulher as dificuldades que ela pode enfrentar, e principalmente mostrar a ela que todas passamos por isso, faz com que o desafio fique menor. A amamentação não é fisiológica como muitos pensam, e sem um pouco de conhecimento e muito apoio, fica muito fácil sucumbir à tentação da mamadeira. E depois passar a vida se culpando por isso.
SERIVÇO
Grazi Mendes Doula: WhatsApp (19) 98908-8453; Instagram @grazimendesdoula; E-mail [email protected]; Facebook Grazi Mendes Doula.