Por que, Luciano?

Felipe de Menezes

Teresa Cristina Dip Rossi

 

O que antes eram rumores e boatos agora foi declarado: o prefeito Luciano Almeida quer transferir a Biblioteca Municipal e a Pinacoteca Municipal para o Engenho Central. Somos contra. E, por sermos contrários à proposta, gostaríamos de expor alguns motivos.

Primeiro que até agora nem o prefeito nem o seu secretário disseram as razões pelas quais querem desocupar e transferir esses equipamentos culturais. Não encontramos no plano de governo do então candidato a prefeito Luciano Almeida nenhuma proposta de desocupação de equipamentos culturais. Muito pelo contrário, dentre as propostas para a área da cultura Luciano disse que iria “manter os espaços existentes” e, em outro trecho do plano, disse que iria “otimizar a utilização de espaços como o Engenho Central, teatros, biblioteca e museus”.  Isso foi registrado no TSE. A atual proposta do governo municipal vai justamente em direção contrária ao prometido em campanha. Nem seis meses de eleito, o prefeito resolve fazer justamente o inverso do que disse há poucos meses antes da eleição?

Os prédios da Biblioteca e da Pinacoteca são prédios históricos. A Pinacoteca é um próprio pensado, projetado para receber exposições. Ao longo de todos esses anos foi muito maltratado, está cheio de umidade, precisando de uma reforma digna e de equipamentos modernos. O acervo permanente da Pinacoteca é riquíssimo e guarda obras de grandes pintores piracicabanos. Ali se realiza anualmente importantes mostras e exposições dos salões com mais de meio século de vida.

A Biblioteca existe desde o século 19 e funcionava no antigo Theatro Santo Estevão como um Gabinete de Leitura. Desde sempre a Biblioteca ocupou espaços emprestados e, por isso mesmo, inadequados. Quem não se lembra dela ali na Rua do Rosário? Só tem dez anos que a Biblioteca ocupa um espaço pensado, projetado, arquitetado para ela. Se olharmos de cima veremos um livro aberto, arquitetado por João Chaddad. O valor gasto para a construção da nova Biblioteca foi de quase dois milhões – isso só a obra. Somados a essa quantia se gastou muito com a compra de mobiliários, arquivos deslizantes, equipamentos multimídia e poltronas para o anfiteatro etc.

As centenas de quadros que compõe o acervo de obras da Pinacoteca bem como os milhares de livros catalogados na Biblioteca são materiais que necessitam de iluminação e climatização muito bem controladas. A proximidade do Engenho com o rio Piracicaba e, por conseguinte, a umidade poderá deteriorar os materiais de grande valor simbólico.

O debate da centralização da cultura é muito antigo, mas parece que não chegou aos atuais gestores públicos. O maior erro que se pode cometer hoje em políticas públicas é a centralização das atividades. No mapa da cidade, o centro é o único lugar com um número de equipamentos culturais a contento. Já nos bairros fora do centro, os equipamentos e, por tabela, as atividades artístico-culturais, são exíguas. Para que centralizar?

O prefeito e o secretário precisam conhecer de perto as dinâmicas, as programações, os usos que aqueles espaços têm diariamente. Ambos precisam se reunir com os funcionários de carreira dos equipamentos, se reunir com as associações da sociedade civil que tenham um trabalho sério e pedir opinião sobre o tema.

Não somos contrários a que haja uma outra biblioteca ou uma outra pinacoteca dentro do Engenho Central. Somos contrários ao desmanche e a desocupação dos equipamentos que já existem. Por que destruir se podemos preservar?

Por fim, precisamos de mais salas para exposições e salas de leitura na periferia da cidade. Que tal construir bibliotecas públicas nos quatro cantos de Piracicaba? Que tal construir galerias de arte nas áreas mais necessitadas ao invés de querer juntar e misturar tudo?

Por que, Luciano?

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Felipe de Menezes e Teresa Cristina Dip Rossi, integrantes da Frente das Culturas de Piracicaba

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