Alê Bragion
Precoce é o peru, que morre na véspera. Ave, ave! Que quando o surto é coletivo tem até judeu dizendo que frequenta igreja cristã: santa CPI pagã dos condenados ao inferno. Salve!E salve-se quem puder! Haja Ritalina para viver no país da Cloroquina. Mas poderia ser pior, muito pior. Na extrema-direita indiana, ao invés de Cloroquina a campanha é por esterco de vaca. Já pensou? E se a moda pega por aqui e o Ministério da Saúde Paralelo resolve, com seus gênios da ciência de almanaque, aceitar a sugestão? Are Baba! Hari Krishna! Esterco no corpo e espírito de porco! Teríamos agora a CPI de esterco, a CPI do estercão. Ave!
E o Contra-Almirante não se fez de rogado ou arrogante, não. Cantou bonito, qual passarinho, a canção da verdade do seu ninho. “Avisa que a Anvisa não autoriza bobagem, não.” Cloroquina? Cloroquinão! Barrou o Barra Torres, o Contra-Almirante do contra, as torres do xadrez de plantão que atacavam pelos flancos a saúde na nação. Quem diria! Ave Maria! Então, a ideia tão brilhante do governo era mudar à revelia a bula da Cloroquina? Sou contra! Sou o Contra-Almirante! Parem o mundo que eu quero descer! Haja Rivotril e Ritalina! Só não bebo gasolina por o litro está mais do que cinco reais. Barra Torres! Barra! Que está barra para nós vivermos neste manicômio. Ozônio in anus outrem est refrescum! Pandemia da piração. Ser brasileiro é um desafio diário. Não basta vencer o vírus, temos também de vencer os vermes – Invermectina neles!
No reino da Terra plana, é claro, nada mais óbvio do que se gastar 3 bilhões em tratores – não é mesmo? Preparem-se todos por que com tanto trator comprado com dinheiro público advindo do “orçamento paralelo” a Terra vai ficar plana de uma vez! Agora vai! Vacinas para que te quero? Eu quero é ver os comunistas dizerem o contrário. Terra redonda, aqui, não! Aliás, corrupção e desvio de verba ganharam termo elegante e com roupagem linguística nova: é o politicamente correto da política politicamente incorreta! No lugar de corrupção, temos hoje o “orçamento paralelo”. Paralela está a nossa vida nesta pátria ensandecida! Que a luz do fim do túnel direita era o farol de uma moto vindo na contra-mão, pilotada por um doido sem capacete e com um veio careca na garupa.
Sabem para onde foi o dinheiro desses super tratores superfaturados? Para os amigos do centrão! É! O general, aquele cantor das horas vagas, cantou certa a previsão: “se gritar pega o centrão, não fica um meu irmão!” Santo general cantor do apocalipse now, Batman! Que o centrão vai tratorar o Brasil! Não teremos mais bordas nem divisão, tudo será um centrão só! E tratorado! Seremos o país do centrão no centro da Terra plana! Haja diesel e gasolina! Põe cloroquina nos tanques dos tratores para ver se funciona – que aqui cloroquina funciona para tudo.
Pior do que hoje, só amanhã – salve José Simão!
Melhor tomar Ritalina precoce, que ozônio eu não quero não.
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Alê Bragion, doutor em Teoria e História Literária pela Unicamp, editor do portal Diário do Engenho e cronista desta Tribuna desde 2017