Para onde está indo a modernização da Educação em Piracicaba?

Charlies Ponciano

A pandemia trouxe inúmeras mudanças e transformações à sociedade atual, em uma esfera global. A tecnologia que muitas das vezes era rechaçada por diversas pessoas por não serem nativos digitais e poderiam sobreviver no mercado de trabalho e na vida social, utilizando-se de recursos analógicos, tornou-se uma ferida aberta a todos.
Ferida exposta mostrou (e ampliou) o abismo que há entre as diferentes classes econômicas, entre as diferentes linhagens de pensamentos, entre as diferentes gerações e, mais ainda, o crescente abismo entre a educação pública e a educação privada brasileira.
Ter o ensino remoto ou o ensino híbrido na escola pública de qualidade é possível? Sim, mas as ações sem planejamento e tomadas de supetão, criam fissuras que desvalorizam o professor de escola pública e desestimulam famílias.
O professor da escola pública, mesmo com a falta de recursos tecnológicos da escola e dispostos pelas famílias, está se desdobrando para que o melhor chegue a cada aluno, na nossa cidade.
Porém, sabemos que muitos professores e gestores não têm afinidade com recursos digitais. O que foi feito pela nossa rede municipal de educação?
A rede municipal deixou a encargo da equipe gestora de cada escola, que muitas das vezes possuem as mesmas dificuldades de domínio dos recursos e/ou ferramentas digitais disponíveis no mercado, assim como os nossos professores; com o agravante, de não lhes conceder treinamento ou direcionamento. Assim como, não houve nenhum suporte financeiro.
A palavra de ordem no primeiro mês da atual gestão da educação municipal era autonomia. Mas esse dar autonomia ao trabalho dos gestores da rede municipal não é isentar ou retirar a responsabilidade da secretaria diante dos equívocos e insucessos, a serem protagonizados pelo sistema educacional no atual cenário da educação piracicabana. Criou uma falta de padronização total no sistema de ensino, cada gestor exige o que quer de seus professores.
O retorno dos professores da rede municipal ao trabalho nas escolas (excetuando os que estão no grupo de risco) ocorreu no dia 12 de janeiro, após dois meses houve uma parada devido a fase emergencial, com o reinício das atividades em ambiente escolar no dia 12 de abril (recebendo os alunos no dia 14). Com essa retomada, os alunos estão em dois ambientes, uns vão para a escola e outros ficam em casa (a grande maioria).
Professores são obrigados a se desdobrarem, a trabalharem além da sua jornada de trabalho, para atenderem aos grupos de pais e alunos que estão em casa e os que estão indo para o ambiente escolar. A autonomia dos gestores geram uma incoerência, alguns obrigam professores a gravarem vídeo aulas e atenderem os alunos, mesmo fora do horário disponibilizado pela secretaria, que acham que os pais só tem dúvidas às quintas e sextas-feiras.
Inúmeras empresas públicas e privadas criaram incentivos para que funcionários realizassem a adequação do ambiente doméstico para o trabalho remoto ou Home Office, a SME só vive na cobrança, a cada semana cria um novo documento ou planilha, pois é preciso se documentar quanto à participação do aluno, para poder justificar a promoção ou retenção ao final do ano letivo. Enquanto isso, professores e gestores têm de utilizar internet ou equipamentos tecnológicos (notebooks, tablets e smartphones) de uso pessoal, na alcunha profissional; pois as condições fornecidas nas unidades escolares não suportam o uso administrativo (secretaria e gestores), não preciso nem relatar quanto ao uso do recurso pelo corpo docente.
Na gestão anterior, o professor “se virou nos 30”, pois a secretaria disse que estava preparando um curso de qualificação a ser ofertado a todos, mas que teríamos que ter calma. O caos não foi maior porque os professores e gestores se auxiliaram nas escolas para adequar à realidade de cada comunidade escolar. Com a autonomia cedida por essa nova gestão mudou alguma coisa?
Não, pois lá no “Olimpo”, o “deus” e as “deusas” da educação municipal preocupam-se em continuar a criar planilhas ou dispositivos que aumentam vertiginosamente o trabalho dos professores, não se atentando a carga semanal de 33 horas. A modernização pautada pelo atual gestor da educação municipal e pela campanha do prefeito Luciano Almeida só está fazendo um êxodo da burocracia analógica para a burocracia digital. Professores precisam fazer “n” planilhas para que se confirme a participação dos alunos. O diário de classe, que seria online, está sendo impresso…
Na atual administração, mais mudanças foram apontadas, dentre as quais a formação continuada do professor, que continua estagnada. A formação continuada que cabia ao professor coordenador da escola, está suspensa pois estão sendo feitas adequações, mas a gestão centralizada precisa ter um papel relevante para ampliar os horizontes metodológicas de cada educador da rede municipal, criar um programa de formação continuada de qualidade aos professores.
É impiedoso o processo de atualização curricular do profissional de educação, pois cabe a ele, sem direcionamento algum da gestão, consolidar seu aperfeiçoamento profissional.
Não adianta “oportunizar” uma autonomia aos profissionais da rede de educação, se os mesmos ainda estiverem atrelados a conhecimentos ou a uma gestão anterior, em que os princípios de gestão era uma educação arbitrária; a verticalidade da outorga das tarefas permanecem, não há uma gestão democrática em nosso município, há não ser nas palavras.
Arbitrariedade essa imposta em palavras suaves, reconfiguraram a carga de trabalho dos professores, mantendo os mesmos equívocos da antiga gestão, não cumprindo a proporcionalidade da atuação do professor na regra 2/3 e 1/3.
Precisa-se libertar o sistema educacional da gestão arbitrária vivenciada por anos, mas isso só vai ocorrer se for concedido conhecimento de qualidade, pois a autonomia não é ingerência dos mandatários, mas sim uma atuação efetiva concedendo vias de conhecimento, para uma atuação.
Termino esse texto fazendo a pergunta do título: para onde está indo a modernização da Educação em Piracicaba?
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Charlies Ponciano, pedagogo e historiador

 

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