Alvaro Vargas
A história de nossa humanidade é repleta de personagens que foram verdadeiros déspotas, que cometeram crimes hediondos. Entretanto, não existe um inferno eterno para as almas pecadoras. Independentemente dos desvios morais, sempre existe possibilidade de remissão para todos nós. Em três belas parábolas, conhecidas como a trilogia da redenção, Jesus esclareceu o destino daqueles que se desviaram do caminho da virtude. São elas, respectivamente: “A Ovelha Perdida”, na qual um pastor deixa seu rebanho de noventa e nove ovelhas para buscar uma que se perdeu (18:10-14 e Lucas 15:1-7), ficando muito feliz ao encontrá-la; a segunda parábola é “A Dracma Perdida” (Lucas 15:8-10) em que uma mulher, com dez moedas de prata, ao notar que perdeu uma delas, acende uma lamparina e varre toda a sua casa até encontrá-la, ficando exultante de felicidade. Na terceira estória, a do “Filho Pródigo” (Lucas, 15:11-32), é descrito um drama familiar, no qual um pai doa ainda em vida, a herança a um dos filhos. Esse, após dissipar toda a fortuna em um país distante, começa a passar fome. Arrependido, volta para casa com o objetivo de implorar por emprego e renunciar seu parentesco com o pai. Mas esse, o recebe de volta como filho, realizando uma festa para celebrar seu retorno. Porém, o filho mais velho, enciumado, se recusa a participar, mas é advertido pelo pai que o educa dizendo que tudo que ele possuía pertencia aos seus filhos, e ele deveria estar alegre, porque o seu irmão estava perdido e regressou ao lar.
O fundo moral dessas parábolas é que não existem pecados sem remissão. Deus não permite a perda de nenhum de seus filhos, conforme o sentido figurado do pastor e da ovelha desgarrada, e da moeda perdida que foi encontrada. Esse raciocínio aplica-se ao filho pródigo, que representa toda a humanidade ainda não cristianizada. De acordo com o Espiritismo, ao longo das reencarnações evoluímos e nos arrependemos de nossas iniquidades, regressando para a casa do Pai, que significa passar a vivenciar os postulados cristãos. O irmão enciumado dessa estória, retrata os falsos puritanos que criticam de forma descaridosa as iniquidades alheias. Por isso Jesus, reservou mais uma parábola, condenando a hipocrisia humana e reforçando a necessidade de cultivarmos a humildade e a caridade, “o Fariseu e o Publicano orando no templo” (Lucas 18:14). Disse o fariseu: Graças te dou, meu Deus, porque não sou como aquele publicano. Não sou ladrão, pago o dízimo e jejuo regularmente. Um contraste com o publicano, considerado herege e pecador na concepção do falso puritanismo farisaico, que prostrado de joelhos disse: Meu Deus, tem piedade de mim, miserável pecador. Jesus concluiu esse ensinamento dizendo: Em verdade, este Publicano voltou para sua casa justificado, e não o Fariseu.
Trazemos, em nosso espírito imortal, uma bagagem de experiências milenares, adquiridas nas múltiplas existências aqui na Terra e em outros planetas. Em cada reencarnação, progredimos no aspecto intelectual, mas nem sempre evoluímos de forma simultânea as demais virtudes. Os ensinamentos de Jesus contidos nessas parábolas, além de estimular o exercício da caridade, fortalecem a nossa fé em Deus e a confiança na Sua misericórdia na remissão de nossas faltas. Isto ocorre através das reencarnações, nas quais vivenciamos as expiações e as reparações necessárias, conforme a necessidade requerida para nos libertarmos de nossos débitos morais. Conforme nos esclarece o Mestre Nazareno, durante a nossa caminhada terrena é importante cultivarmos a humildade, compreendendo que todos que cometem iniquidades são apenas retardatários em nosso processo evolutivo. Eventualmente, todos serão resgatados pelo Pai e reencaminhados, pela reencarnação. Recordemos que criticar de forma descaridosa aqueles que se desviaram do caminho da virtude, nos remete ao ensinamento do pai ao egoísta na parábola do filho pródigo, na qual todos nós somos irmãos em humanidade.
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita