Alvaro Vargas
Jesus nada deixou escrito e o que sabemos sobre os seus ensinamentos é baseado nas narrativas dos seus seguidores. No início da era cristã, circulavam vários Evangelhos, mas a sua versão definitiva foi por volta de 150 d.C. Surgiu na forma atual, documentado conforme conhecemos, no ano 367 d.C., reconhecendo como autênticos apenas os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. Esses textos foram considerados em conformidade com as regras eclesiásticas e dogmas da Igreja Católica Romana (Canônicos), passando a ser aceitos pela maioria das religiões cristãs e fazendo parte do Novo Testamento da Bíblia.
Atualmente, graças às obras espíritas, conseguimos obter maiores esclarecimentos sobre os acontecimentos daquela época. Entre os apóstolos que produziram esses escritos, apenas dois conviveram com Jesus, respectivamente João e Mateus.Com relação aos outros dois,Marcos era muito jovem na época de Jesus e Lucas conheceu a Boa-nova apóso martírio do Calvário (33 d.C.), se tornando cristão quando conheceu o apóstolo Paulona cidade de Antioquia (em 42 d.C.).Assim, apenas João e Mateus escreveram o que testemunharam. O espírito Amélia Rodrigues (Há flores no caminho, Divaldo Franco), cita: “das anotações e fragmentos encontrados, tomaram corpo na apresentação dos Evangelhos Sinóticos que são os de Mateus, Marcos e Lucas, em face do seu paralelismo, que lhes faculta ser colocados em três colunas visíveis ao mesmo tempo”. João foi o último a escrever o seu Evangelho. A respeito do idioma original utilizado na elaboração dos Evangelhos, em outra obra (Primícias do Reino, Amélia Rodrigues e Divaldo Franco), é citado que eles foram “escritos inicialmente na língua falada por Jesus o aramaico, excetuando-se provavelmente Lucas; logo foram traduzidos para o grego, corporificando o pensamento do Mestre, que se dilataria por toda a Terra”.
Gamaliel (doutor da lei e mentor de Saulo), na sua visita à Casa do Caminho, por volta do ano 35 d.C., recebeu de presente a versão completa do Evangelho de Mateus (Paulo e Estevão, cap. 7, Emmanuel & Chico Xavier), sendo que dos quatro Evangelhos Canônicos escritos, foi o primeiro de que se tem conhecimento. Mateus, posteriormente, reescreveu o seu Evangelho em grego, entre 50-55 d.C. (Quando Voltar a primavera, Amélia Rodrigues e Divaldo Franco),o que faz sentido, uma vez que elefoi divulgar os ensinamentos de Jesus em outras regiões. Ele seguiu a recomendação do Mestre Nazareno de “espalhar o Evangelho por toda a parte e para todos os povos” (Até o fim dos tempos, Amélia Rodrigues & Divaldo Franco).
Com certeza, os seguidores de Jesus possuíam anotações próprias acerca da Boa-nova, razão pela qual existiram tantos Evangelhos no início da divulgação do cristianismo. Fazercópias desses Evangelhos era uma prática comum entre os seguidores de Jesus, para divulgar os seus ensinamentos. De acordo com o espírito Emmanuel, Saulo, depois da visão do Mestre Nazareno em Damasco, encontrou-se com seu antigo mentor, Gamaliel, que lhe doou uma cópia integral do Evangelho de Mateus. Assim, tanto Lucas, convertido por Paulo ao cristianismo, como Marcos, que conviveu com Pedro na Casa do Caminho, tiveram acesso às cópias desse Evangelho, que certamente influenciou o que escreveram. João também conhecia essas anotações, mas era místico e foi o único dos apóstolos a desencarnar de morte natural; teve um tempo maior que os demais em seu apostolado. Escreveu para os cristãos quase no final de sua vida. Oseu Evangelho foi redigido em grego, sendo considerado “Espiritual”, merecendo de Orígenes, o pai da igreja do século III, o seguinte comentário: “Ousamos proclamar que a flor de todas as Escrituras, é o Evangelho dado por João; não lhe pode perceber o sentido, quem não tenha repousado no coração de Jesus ou não tenha recebido, de Jesus, Maria como mãe” (Há flores no caminho, Amélia Rodrigues e Divaldo Franco).
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Alvaro Vargas, Eng. Agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita
Essa ideia de que o pensamento de Jesus “se dilataria por toda a Terra” não se constitui em um tipo especial de supremacismo religioso? Nós, os cristãos, representamos pouco mais de 30% da população do planeta. Há tradições espirituais riquíssimas que são milenares. Teria Jesus tal pretensão de catequese sobre essas tradições? Não estaria isso associado à ideia de “povo eleito” do judaísmo? Não seria melhor pensarmos em temos de pluralidade, de diversidade, do que alimentarmos esse tipo de pretensão?