Deixe que todas as flores floresçam

José Renato Nalini

 

Essa é uma expressão de Zygmunt Bauman (1925-2017), um dos mais influentes pensadores dos séculos 20 e 21. Ele se recusava ao dogmatismo rígido e inflexível, presente em inúmeros espaços da convivência. A sociedade humana desaprendeu o valor da tolerância, do respeito à diversidade e da consideração devida ao diferente.

Embora a frase fosse pertinente às divisões observadas na Universidade, notadamente quanto às linhas sociológicas e filosóficas em litígio, ela sugere uma reflexão passível de incidir sobre política, religião, preferências esportivas, concepção ideológica, economia e outros setores nos quais o ser humano está imerso.

Para Bauman, “as ótimas condições de desenvolvimento da filosofia e da sociologia científicas só podem surgir quando nos centros de educação de filósofos e sociólogos, e nas universidades, houver vários tipos de filosofia e sociologia representando uma variedade de escolas científicas”.

Isso serve para a discussão das vacinas. Todas elas são bem vindas. Venham de onde vierem. É surreal a resistência a uma delas por fatores ideológicos perigosos. Valeria a pena afastar do Brasil a sua maior compradora de soja? Ou escolher um sistema 5G que obrigue o País a fazer um enorme investimento para trocar toda a estrutura anterior – 3G e 4G – fornecida por aquela Nação que ora é absurdamente hostilizada?

O pluralismo é valor fundante da Democracia Brasileira. Não há mais lugar para sectarismos, secessões, intolerâncias, partidarismos e, principalmente, para fanatismo. O tribalismo é marco sinalizador de retrocesso civilizatório. Ainda é recente o péssimo exemplo do nazismo, a investir na xenofobia, no preconceito, momento que precisa ser lembrado para não ser repetido, em que se exerceu, com crueldade, “o direito tribal de rejeitar e perseguir, a própria razão do ódio e do sofrimento”.

A humanidade precisa se abeberar nas fontes que jorram fraternidade, solidariedade, harmonia entre os contrários. Investir em ética e em estética, a ética da alma. Ainda que nem todos sejam cristãos, refletir sobre a mensagem evangélica: “Em casa de meu Pai há muitas moradas”. O ser humano é múltiplo, singular, individual e irrepetível. Deixemos que todas as flores floresçam, cada qual com seu colorido e a seu tempo.

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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL); foi presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

 

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