Alvaro Vargas
A criação do universo como conhecemos, segundo os cientistas, ocorreu há mais de 13 bilhões de anos, e a Terra há 4,5 bilhões de anos. O Decálogo, por se tratar de um código de justiça universal, consideramos que já existia antes mesmo da criação de nosso planeta. Moisés, profeta enviado por Jesus, o recebeu, através de sua mediunidade. Entretanto, o atraso moral dos hebreus há 3.500 anos inviabilizou a sua apresentação em uma linguagem diferente da que foi utilizada para a sua concepção. Após três séculos de servidão no Egito, a população daquela época não possuía maiores aspirações, além das funções básicas da vida, e as revelações do mundo espiritual dependem de nosso estágio evolutivo. Mesmo Jesus, 1.500 anos após Moisés, não pôde dizer tudo diante das limitações dos judeus, profetizando a vinda do Consolador (João, 16:12-13), para completar a sua obra, que é o Espiritismo.
Moisés estudou e se preparou para essa tarefa, de modo a ser o mais receptivo possível para a primeira grande revelação transmitida para a humanidade. Entretanto, necessitou de apresentar o Decálogo, de uma forma que pudesse ser aceita pelos hebreus, rebeldes e afeitos à idolatria. Ele conseguiu a grande façanha de introduzir o monoteísmo, mas descreveu o Altíssimo, como um Deus colérico, temperamental, que castigava os incautos. Para isso, se utilizou de uma linguagem imperativa, capaz de disciplinar os hebreus. Foi a alternativa que ele encontrou, de modo a manter a unidade de seu povo, durante a peregrinação através do deserto por quarenta anos. Compreensível e sábia a decisão do grande legislador hebraico; mas isso não justifica, que após 3.500 desse acontecimento, muitas correntes religiosas ainda insistam em infundir em seus adeptos, o “temor a Deus”.
No Decálogo, o Primeiro Mandamento diz: “Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirei do Egito, da casa da servidão. Não tereis, diante de mim, outros deuses estrangeiros. Não fareis imagem esculpida, nem figura alguma do que está em cima do céu, nem embaixo na Terra, nem do que quer que esteja nas águas sob a terra. Não os adorareis e não lhes prestareis culto soberano”. Evidente que Moisés procurava eliminar a idolatria que os hebreus praticavam, prática comum naquela época do antigo Egito. Mas o espírito André Luiz (Evolução em Dois Mundos, cap. 20, Chico Xavier e Waldo Vieira), se utiliza de outra linguagem para esse Mandamento; ao invés de ser imperativa, é sugestiva: “Consagra amor supremo ao Pai de Bondade Eterna, nele reconhecendo a tua divina origem”. Deus nos criou simples e ignorantes, para que evoluíssemos gradativamente, exercendo o nosso livre arbítrio. A justiça divina se cumpre, de acordo com as provas e expiações que temos de passar no mecanismo reencarnatório. A bondade divina é ilimitada e as oportunidades educativas sempre nos são oferecidas, até despertarmos para uma vivência mais fraterna entre os homens.
A melhor compreensão da justiça divina e a fé em Deus melhora as atitudes dos homens. Na oração dominical ensinada por Jesus (Mateus, 6:9-15), está implícita essa glorificação: “Pai nosso que estás nos Céus; Santificado seja o Teu Nome. Venha a nós o Teu Reino. Seja feita a Tua vontade, na Terra como no céu.” De acordo com o espírito Amélia Rodrigues (Luz do Mundo, cap.5, Divaldo P. Franco), essa oração foi ensinada na primavera que antecedeu o seu martírio no Calvário. Segundo a autora, “é eloquente as expressões de reconhecimento ao Altíssimo; humildade e submissão da alma que ora e se subordina às inexauríveis fontes de perdão divino; entrega total, em confiança ilimitada. Exaltação do Pai nas dimensões imensuráveis do Universo; respeito a grandeza da Sua Criação através da alta consideração ao Seu Nome; resignação atual diante das Suas determinações divinas e divina presciência. Canto de amor e abnegação!”.
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita