Arte Sacra, o quê e porquê

Gabriel Chaim

 

É com imenso prazer que inicio esta coluna dedicada à Arte Sacra e suas muitas facetas. Convido o leitor a descobrir comigo sobre a arte do mundo em suas terras distantes no além-mar. Como o título do texto sugere, há duas coisas para se elucidar: o quê é Arte Sacra e o porquê de fazê-la.

A resposta às perguntas, convenientemente, vem compactada em uma só. A Arte Sacra, também chamada de Arte Sagrada, tal como o nome sugere, comporta uma dimensão espiritual que é manifestada dentro de um contexto civilizatório, que atinge a um coletivo; a vários indivíduos. Isso significa que esta dimensão artística está muito pouco interessada na auto-expressão individual, mas em comunicar-se com um tudo, com uma civilização. Em analogia, toda e qualquer Arte Sagrada tem sua origem num vértice vertical, num movimento de cima para baixo. Esse argumento reflete a íntima relação dessas manifestações artísticas com as chamadas Revelações Divinas que reformam ou inauguram as expressões de fé, as religiões.

 

Um ótimo exemplo disso é a chamada Arte Islâmica que, naturalmente, tratando-se da religião do Islã e sua vasta civilização que se estende de Marraquexe no ocidente a Jacarta no oriente, põe de lado os detalhes regionais dos  povos sob sua influência significando que não se ouve o termo “arte  marroquina” ou “arte  indonésia” fora do contexto da “Arte Islâmica” que está, por excelência, ligada à dimensão religiosa trazida pelo profeta Muhammad. O mesmo se aplica às tradições cristãs que, durante a Europa medieval, estavam conectadas por uma tradição Gótica, portanto, toda e qualquer Arte Gótica está solenemente ligada ao Cristianismo.

Porém nada se cria no vácuo; todas as grandes civilizações  do mundo estavam em constante contato e diálogo umas às outras e a beleza nem sempre está nos detalhes. Para ilustrar o que quero dizer devo contar um pouco sobre mim: moro em Londres, na Inglaterra e estudo na Escola do Príncipe de Artes Tradicionais (Prince’s School of Traditional Arts em inglês), trata-se de uma instituição ligada ao Príncipe de Gales, nosso principal patrono, e a pluralidade que se encontra nesta escola é admirável. Eu, um brasileiro, cristão (e maronita pela minha herança libanesa) estudo um curso chamado Arte Visual Islâmica e Tradicional (Visual Islamic and Traditional Arts em inglês) que é patrocinado pelo Príncipe Charles, futuro rei da Inglaterra e líder da Igreja Anglicana. Portanto, a diversidade experienciada aqui é de se encantar os olhos de até mesmo o mais rígido dos zelotas.

Convivo ao lado de hindus, muçulmanos e cristãos das mais diversas denominações e nacionalidades e cada um carrega consigo uma tradição que é bela e original, mas não é original porque é única, porém porque vem da Origem, e trata-se da mesma Origem que inspira todas as manifestações espirituais: a analogia do vértice vertical orientado de cima para baixo, a revelação divina, como expressa pela diagrama anterior.

 

Portanto, a Arte Sacra comunica sobre esta origem, sobre o começo do vértice, e manifesta essa mensagem por meios deste mundo, inteligível a nós, humanos. Talvez a imagem a seguir possa ser familiar ao leitor. A estrela de Davi representa a união, o encontro da dimensão espiritual com a dimensão terrena e esse é o propósito da Arte Sacra.

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Gabriel Chaim, pintor, bacharel em Design Gráfico (ESPM), mestrado em Artes Visuais Islâmica e Tradicionais na Prince’s School of Traditional Arts, mestrado em Pintura no Wimbledon College of Arts

 

 

 

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