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Camilo Irineu Quartarollo

 

A expressão dia D foi cunhada na segunda guerra mundial pelos aliados contra o nazismo de Hitler. E no dia fatídico, com chuvas e trovões, eles desembarcaram na Normandia sob saraivadas de balas e canhões alemães. Como heróis, salvadores da pátria, cuja filmoteca guarda. Nesta, a hora tinha de ser oportuna, H, embora imprecisa para o inimigo que recebia notícias falsas. Os aliados camuflavam o dia D, escondiam bilhetes nos bolsos dos soldados mortos para despiste; ou mesmo sacrificavam-se batalhões inteiros para prevalecer a estratégia traçada. Entretanto, não somos alemães nem ingleses! Não estamos sob um inimigo palpável para estrangulá-lo com as mãos. O inimigo está dentro de nós ou no espirro de quem se avizinha, no aperto de mão contaminada, no falso sorriso da morte sem máscara. Usa máscara, gente!

Nessa agonia da Covid, que mata mais de duzentos mil “apressados” surgem as pérolas: para que pressa, essa agonia toda?! Afinal, “gripezinhas” se curariam com chás, ou coquetéis, para justificar a impotência e inoperância.

Em número de “gripados” mortos somos vencidos somente pelos EUA de Trump, o negacionista maior. Será que o Brasil vai tentar o primeiro lugar nesse ranking? Esta Freud não explica. Perguntem ao personagem mítico, Édipo, ele também pode dizer que antes do dia D e da hora H vai faltar O2. Não tem plano B não! O tratamento precoce é falso (vide pareceres da Organização Mundial da Saúde), como mostra uma ala de asfixiados em Manaus. Meu Deus! Sem medidas de distanciamento, máscara e álcool teremos uma Manaus aqui, outra acolá!

Ministros nem sempre falam generalidades, mas ultimamente é o que ouvimos. Perguntas básicas têm respostas esquisitas, estranhas ao brasileiro comum, em tempo de paz. Para que os institutos renomados que temos, onde cientistas ofuscam o brilho de políticos de última hora? Para que a fleuma científica e trabalho árduo, de vidas inteiras, como se vê no Butantã e na Fiocruz? Bastariam uma cerveja no bar e uma resposta estupidamente gelada de uma “aglomerada”. Como nas guerras, a primeira vítima ferida de morte é a verdade.

Na peça de Édipo rei, de Sófocles, nosso herói está defronte da cidade de Tebas se debatendo com questões de vida ou morte propostas pelo monstro mitológico, a esfinge, que pergunta e o ameaça de que se não responder “será devorado”, morto.

Édipo respondeu, apontando a si mesmo, a nós.

Como nesta pandemia tal qual assolou Tebas pelo pecado do rei. Um morto, dois mortos, três mortos… duzentos mil… duzentos e oito mil, e?

A resposta é pífia: temos poucas vacinas e agulhas. Muitos braços e narizes expostos. Usa máscara aí, cidadão! Qual parte do cemitério não entendeu?

O destino de Édipo é tão trágico que o vidente cego vai lhe contando aos poucos. Quando se confirma o oráculo que pesa sobre o rei, este fura os próprios olhos. Não enxerga aquilo que é visível até mesmo a um cego como Tirésias. Não tirem a máscara.

Ainda não acabou, mas o monstro será dominado.

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Camilo Irineu Quartarollo, escritor , escrevente judiciário, autor do livro A ressurreição de Abayomi e outros

 

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