A hora e a vez da Cultura

Rai de Almeida

 

Criação. Tradição. Trabalho. Sociedade. Pensar políticas públicas para a área da cultura de uma cidade pressupõe muito mais do que elencar sugestões para fomento de atividades artísticas a serem subsidiadas por uma secretaria. Como nos ensina Paulo Freire, em seu livro “Educação Como Prática da Liberdade”, é preciso pensar a cultura a partir do entendimento do papel ativo do ser humano em sociedade, compreendendo o fazer cultural na esteira do que o humano produz e acrescenta ao mundo. Portanto, é a cultura muito mais do que um simples produto – é ela um mundo que se acrescenta ao mundo, fruto do trabalho, do intelecto, de ações coletivas e criativas capazes de transformar a realidade e a própria sociedade.

 

Nesse sentido, é preciso pensar a cultura também como elemento catalisador capaz de mover e promover estruturas sociais e novas formas de pensamento que estimulem e despertem noções mais sensíveis de cidadania, de gentileza, de democracia e de respeito à toda forma de diversidade, ao próximo e ao coletivo. Isto posto, cumpre destacar que o ataque sistemático à cultura, experimentado nos últimos anos, sinaliza muito claramente à sociedade brasileira que a cultura é a força motriz social a ser combatida por aqueles que desejam dominar e submeter os cidadãos ao julgo da ignorância e do controle político, social e ideológico.

 

No plano federal, por exemplo, a extinção imediata do Ministério da Cultura e os ataques à programas de incentivos fiscais – como os advindos da Lei Rouanet – revelaram que as forças extremistas da direita têm muito claro em seus programas a percepção de que é pela cultura que a sociedade pode se reencontrar com a democracia, com a liberdade, com o pensamento – e, para impedir tais possibilidades, fez-se da cultura um inimigo a ser combatido. No plano estadual, não menos nefasto, os sucessivos cortes de verbas em programas de fomentos a instituições públicas no campo da arte reforçam – na esfera paulista – o ataque nacional à cultura.

 

No que diz respeito à cidade de Piracicaba, a ausência de políticas públicas eficazes na promoção e desenvolvimento das potencialidades da cultura piracicabana em seu espectro diverso, amplo e democrático são sentidas há mais de uma década pelos fazedores de cultura e pelos cidadãos e cidadãs. Não à toa, são inúmeros os grupos e coletivos de artistas das mais variadas áreas culturais piracicabanas que não hesitam em declarar publicamente a tristeza e a insatisfação que os dominam em relação à maneira como o poder público conduziu a área nos últimos dezesseis anos.

 

Por isso, não é demais lembrar à nova gestão municipal que se inicia que um plano de cultura de uma secretaria comprometida deve ser capaz de contemplar a cultura em sua potencialidade e diversidade – apoiando-se numa compreensão mais dilatada do próprio conceito de cultura. Assim, é preciso que artistas e fazedores de cultura sejam ouvidos. É preciso ampará-los e auxiliá-los. É preciso criar possibilidades de trabalhos e formação. É preciso abrir diálogos com os mais diversos grupos. É preciso promover democraticamente ações e reflexões permanentes com quem dedica a vida a criar mundos ao mundo, a dar vida à nossa vida real – tão carente de todas as potencialidades que só a arte tem a nos oferecer.

 

Não há mais tempo a perder, Piracicaba. Lutemos por novos tempos na cultura. Lutemos por novos tempos na cidade.

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Rai de Almeida, vereadora em Piracicaba (PT)

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