Salvio Cucolo
Estamos ao final de um ano totalmente atípico e achei por bem tecer algumas considerações necessárias e fazer uma retrospectiva de como tudo aconteceu para mm e para a minha empresa – Senha Comunicação.
Lembro em janeiro, quando vivíamos normalmente e assisti àquela reportagem incrível de como os japoneses construíam hospitais em 5 a 7 dias para milhares de leitos e ficamos todos atônitos com a capacidade construtiva deles de atingir metas tão ambiciosas. Mas não nos demos conta que era uma população que já havia entendido a gravidade da situação correndo atrás do prejuízo e tendo que se desafiar, pois já haviam previsto a dimensão do problema que já os assolava, e tinham experiência desse tipo de evento.
Daquela reportagem em diante, foram 2 meses que vivemos normalmente vendo país a país acordando para um novo problema nunca dantes enfrentado. A pandemia do Coronavírus.
Vimos a Itália sucumbindo, a Inglaterra se enganando, os Estados Unidos menosprezando e omitindo a gravidade, e daí a verdade foi ficando clara (como dizem os americanos: cristal clear) e aportou por nossas bandas, também desavisadas;
Aviões da força aérea brasileira foram de forma atrasada buscar nossos compatriotas em vários países onde o surto já estava fora de controle, montavam-se tendas nos aeroportos sendo construídas as pressas para fazer triagens de 14 dias em quem voltava a terra natal.
Muitos outros complexos abertos como o Anhembi, o Pacaembu em São Paulo, e outros grandes espaços em todos os estados de nossa república federativa sendo usados para construir em tempo recorde uma complexidade construtiva para atender de pronto o que eles chamavam de: ultrapassar o limite de atendimento de saúde do serviço público e privado, o que aconteceria em muito pouco tempo. Tempos difíceis.
Os países foram se fechando e entendemos a gravidade da situação.
Em nossa realidade cotidiana enquanto empresa, percebi no início de março as notícias de mortes de forma acelerada. Tomei a decisão numa terça a noite, após uma mesa redonda que assisti na Internet sobre o que estava por vir e o que já estava ocorrendo, e na quarta cheguei no escritório e mandei todos iniciarem a partir do outro dia em suas casas de modo home office que nem sabíamos como era mais ou menos. Todos exceto os coordenadores, 3 pessoas que junto comigo ficaram até sexta mas que iniciaram na outra semana em casa também.
Pensei comigo àquela altura. Vou vir sozinho no escritório e fico aqui seguro e meus colaboradores em casa como se fosse o capitão a não largar o navio prestes a afundar. Pois bem, vim na segunda, terça e continuava a ler e ouvir notícias. Naquele momento as ruas já paradas, um meio lockdown sem obrigatoriedade ocorrendo. Segunda com cara de domingo,.
E continuando em nosso cotidiano de captação de informação de forma total acabara de inaugurar a CNN Brasil no Brasil que foi um parceiro importante de informação continuada onde bebi muito daquela água. As entrevistas do Mandeta começavam a ocorrer nas terças, quartas e quintas ao meio da tarde e na quarta feira quase em meio ao pânico de algo que a gente não conhecia, falei para minha esposa.
“To indo na hora do almoço pra casa e arruma por favor o quarto do escritório que vou trabalhar daí. Estou com medo de ficar aqui”.
Desde então, estamos de lá para cá a empresa inteira em home office e sou orgulhoso dessa tomada de decisão em prol da segurança dos colaboradores, premissa essa uma das principais missões da Senha enquanto empresa – prezar pela qualidade no atendimento, satisfação dos que trabalham conosco e especialmente da sua segurança enquanto pessoas que temos coresponsabilidade.
A partir dai, tivemos vários aprendizados.
O Primeiro foi o da relação comercial que passou a ser via call com clientes e fornecedores em um primeiro momento não sabendo como fazê-lo, tendo que haver de nossa parte o auxílio e ensinando os tramites de baixar aplicativos e usar ferramentas de áudio e vídeo de forma eficiente.
Em segundo lugar a relação com os colaboradores que passou a ser mais individualizada, o que dá muito mais trabalho, tendo em vista que a passagem de um briefing, conciso ou feedback de reuniões e envio de relatos muito mais detalhados, mudou nosso modus operandi .
Para uma conversa que tínhamos em tempos normais, onde fazíamos chats presenciais rápidos em minha sala ou na sala de reuniões com 2 ou mais pessoas na empresa física e em 10 minutos conseguíamos alinhar demandas e passar insights com qualidade e velocidade passou a ser realizado por meio de 3 a 4 ligações aos envolvidos com toda a dificuldade de disponibilidade deles que estavam também em outras calls ou respondendo os Whatts e e-mails da vida, que triplicaram neste período, ficando muito mais demorado e trabalhoso .
Ou seja, trabalhamos o dobro, exaustivamente com grande pressão e ansiedade dos clientes também perdidos e tendo que aprender todo uma forma nova de se comunicar, trabalhar e prospectar, o que foi um dos maiores desafios comerciais.
O tempo foi passando, entre uma dor de cabeça, outra nas costas, alguns almoços fazendo calls e lendo de tudo sobre o que estava acontecendo, fomos levando esta nova vida estranha sem uma perspectiva clara. Lembro de reuniões com meus parceiros coordenadores de dizê-los para entender os problemas de nossos clientes e tentar ajuda-los naquele momento com ideias, para que todo o processo de comunicação não se perdesse e lógico o acesso aos meios digitais tornou-se crucial como sendo o canal o principal onde atacamos de forma muito, mais muito contundente a ampliação dos conteúdos pela pulverização que estava ocorrendo e dando atenção a imagem que naquele momento deveria ser passada que, pois nem venda era, mas de aprimoramento de imagem frente a uma causa onde ajudar o outro, e aparecer de forma mais emotiva, promovendo e saldando ações sociais, aplicando em suas empresas medidas de combate e protocolos de saúde e divulgados exaustivamente mostrando a responsabilidade corporativa que entenderam o mais prudente a ser feito. Naquele momento.
E assim, ampliamos nossos conteúdos digitais e a presença das empresas, nossos clientes, nos meios, dobramos nosso trabalho nos tornando em alguns casos psicólogos, mentores, informadores, e consultores da pandemia levando informação aos que não tinham tempo de se informar.
Procuramos ter tranquilidade para acalmar ânimos exacerbados, flexibilizando e nos abrindo completamente a horários alternativos para poder ajudá-los. Fomos meio médicos de comunicação.
Aprendemos muito com esse processo e gostaria de ressaltar aqui alguns preceitos que vislumbro foram adquiridos das mudanças estabelecidas e nesse momento de retorno de casos, escrevo esse conteúdo hoje em 17 de dezembro, dos insights que este cenário de resiliência nos trouxe.
PESSOAIS
– Estamos mais fortes.
– Sobrevivemos e estamos aqui a escrever.
– Muitas pessoas cheias de saúde não estão mais entre nós.
– Precisamos nos cuidar de forma real e não confiar nestes governantes. Não sou político e não gosto de me expressar neste setor mas nunca ficou tão explícito que estes caras não trabalham pelo bem público e querem apena poder pessoal. Sempre soubemos disso, mas nunca ficou tão claro. E as últimas eleições mostraram um pouco isso.
– Somos resilientes porque conseguimos apesar de todas as adversidades aguentar uma vida de certo modo sem sentido, pois trabalhamos para pagar contas e nem mesmo podemos nos arejar, socializar e estar entre os entes queridos.
– As diferenças de gênero ficaram expostas e a sociedade mostrou sua incapacidade de cuidar e conviver com todas as diferenças.
– A convivência em casa com a família aproximou e dividiu casais e famílias. Mas já era o prenúncio do que estava por vir, cada caso teve sua consequência dando velocidade às tomadas de decisão.
– Estamos mais eficientes e super informados, pois todos, mas todos tem hoje uma ferramenta chamada smarthphone e sabem usar muito bem sem diferenças de faixa etária e poder aquisitivo, basta ver os apps da CAIXA que todos tiveram que entender e hoje é conhecimento irraízado.
– O Brasil descobriu a quantidade de pessoas autônomas e o grande contingente de trabalhadores invisíveis que não estavam em nenhum destes grandes levantamentos do IBGE e que nunca acertam nem de perto um retrato da real situação brasileira.
EMPRESA
– Enquanto empresa estamos mais fortes.
– Entendemos que trabalhar em home office não é um bicho o de sete cabeças, basta se organizar para tal.
– Descobrimos que a empresa tinha todos os seus processos e modelo de negócio digitais e na nuvem, o que nem a gente sabia direito o quão estávamos preparados para um cenário como esse e que não houveram perdas de eficiência e nem de alinhamento das demandas e projetos. Lógico que a falta do contato presencial acaba por tirar um pouco do DNA da empresa criando discrepâncias de postura, permitindo algumas facilidades e aberturas, mas isso eu deixo para as consciências individuais avaliarem, mas imagina uma equipe coesa que trabalhou muito cumprindo com suas obrigações e entregas. Orgulho de nosso time.
– As lives das 17 às 21 horas viraram nosso horário nobre onde vimos de experts e aproveitadores passando sua mensagem que tínhamos o direto democrático de ouvir ou mudar de canal.
– Ficou claro para empresas corporativas e autônomas que sem uma presença digital e posicionamento de imagem, trabalho que é o nosso core business, não atingem mais o seu cliente ideal que não atende mais telefone e um contato direto é mais difícil de ser realizado.
– Alguns setores, muitos e muitos deles ainda não acordaram para a mudança de comportamento em curso já hà algum tempo e continuam trabalhando como antes. Necessário acordar!
– Ganhamos novos clientes.
– Terminamos o ano com o sentimento do cumprimento de nossas obrigações .
Ou seja, estamos diante de uma mudança que já sabíamos estava acontecendo rapidamente, mas que a pandemia acelerou de forma incrível. Já ouvi relatos de que este novo modelo de viver e trabalhar talvez fosse virar comum em 3 ou 4 anos, mas em 10 meses isso veio pra ficar.
Não acho isso de todo ruim, apenas que foi abrupto de mais em meio a um desespero de saúde pública, impossibilidade de planejamento visto que não havia perspectivas de longo prazo, ou melhor vivemos por uns 4 a 6 meses, semana a semana, mês a mês, com grande desequilíbrio emocional.
Como sabemos a mudança e a tirada da zona de conforto é benéfica para poucos e tóxica para muitos. E vimos cair empresas, discursos, projetos, planejamentos e engavetamento de perspectivas.
Por fim, grandes empresas entenderam seus papéis, ajudaram muito com movimentos em prol da não demissão e ajuda humanitária com investimentos no setor de saúde e de certo modo algumas ações governamentais, bem mal planejadas, mas que ajudaram empresas e pessoas desempregadas que ao menos puderam sobreviver e ter seu sustento em meio a dificuldade escancarada.
Como resumo geral, em minha opinião pessoal exergo assim os próximos passos:
– Estamos ainda entendendo essa nova realidade, com certo grau de perspectiva frente aos próximos
10 meses com a vacina.
– Vamos entrar em 2021 mais conscientes desse novo mundo e muito, mas muito mais com pé no chão, não acreditando mais nas inverdades dos governos.
– O que interessa de fato são as pessoas e não as estruturas físicas de escritórios e grandes espaços lindos.
– Precisamos cuidar de nosso psicológico, de nossos filhos e entes, muito afetados por tudo isso.
– Precisamos de uma vez por todas ficar mais tempo com familiares, especialmente os mais idosos e aproveitar cada segundo com amigos e parentes, porque não sabemos o dia de amanhã. Porque olha! Um meteoro cair na Terra já entra nas minhas probabilidades de ocorrer.
– Dinheiro não é tudo, haja visto que se você não puder desfrutar das coisas e da companhia de nossos entes queridos de que adianta dinheiro.
– Estar em um trabalho que respeita seus colaboradores, tem reponsabilidade e da estabilidade, já é para se colocar no radar e valorizar muito. Porque ainda há pessoas que não priorizam isso.
– Nunca antes o empresariado precisou de instituições financeiras que demandem auxílio sem querer tirar proveito com taxas abusivas e relacionamentos medíocres. Espero que com os bancos digitais e tendo passado tudo isso como todos passamos exista mais compliance e humanidade nesta relação. Sei que isso é uma utopia, mas acredito nisso.
Ou seja, que 2021 seja um pouco mais normal, porque o novo normal não é tão normal assim, muito pelo contrário e eu preferia um novo mundo com o antigo normal. Aquele da época de meu pai, com mais gentileza, tempo, boas atitudes, amizade, competição construtiva e bons exemplos.
PORQUE NESSE NOVO NORMAL DE HOJE, PARA MIM TÁ TUDO ANORMAL..
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Salvio Cucolo, CEO Senha Comunicação