Agricultura urbana: tudo a ver

José Renato Nalini

 

Os tempos sombrios de destruição da floresta, extinção da biodiversidade, contaminação da água e poluição crescente, é preciso recordar o lema ambientalista hoje tão negligenciado: pensar globalmente, agir localmente.

Se a política estatal propõe a catástrofe, a política cidadã pode e deve ser diferente. Antigamente, todas as casas tinham três expressões ecológicas: jardim, horta e pomar. Hoje, a conurbação exagerada baniu o verde. As ruas são para os automóveis, o assassino de milhares de pessoas a cada ano.

Apesar desse clima desalentador, é preciso estimular os heróis que mantêm espaços públicos ajardinados, os que coletam sementes das árvores que aliviam a péssima condição climática das cidades, os que mantêm plantas dentro de suas residências. Ainda que sejam apartamentos cada vez menores.

Algo que merece a atenção de todos os brasileiros é a agricultura familiar. Há catorze milhões de desempregados no Brasil. Esse número não inclui os subempregados, os que já não procuram emprego e os invisíveis. Os que nunca procuraram e vivem na informalidade.

Há pessoas que têm o “dedo verde”: tudo o que plantam viceja e cresce. E há necessidade de abastecer os lares com produtos provenientes de uma agricultura saudável, sem os pesticidas e herbicidas que o mundo “civilizado” nos empurra e que o Brasil compra desvairadamente.

É um projeto importante fomentar hortas coletivas, incrementar a agricultura urbana, a apicultura, pois o mundo está matando as abelhas e, com isso, apressando o desaparecimento da biodiversidade, o plantio de frutas típicas da Mata Atlântica e de ervas medicinais e para a alimentação tradicional da mesa brasileira.

O Brasil nunca mais superará o gap criado pela paralisação da pesquisa, que fez com que o mundo disparasse em tecnologia e nós ficássemos na rabeira da rabeira. Mas pode recuperar espaço com uma agricultura urbana e familiar. Possível, rentável e fornecedora de opção digna para os milhões que foram deixados para trás nessa inclemente e disruptiva mutação da Quarta Revolução Industrial.

Todos os novos prefeitos devem pensar nisso. É uma vereda promissora e atraente. E fará bem à natureza, tão vilipendiada nesta Terra que já foi inteiramente verde.

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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL); foi presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

 

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