Natalia Mondoni
O ano de 2021 já está batendo a nossa porta e, a essa altura do mês de dezembro, nós percebemos que também chegou o nosso cansaço. Pudera: 2020 foi um ano extremamente desafiador para muitos de nós. Ou, melhor dizendo, todos nós. A essa altura, além do cansaço, faz-se compreensível sentir, inclusive, um certo desânimo. Mas, se sentir cansado ou desanimado não é uma característica exclusiva de 2020. Para muitos de nós, o cansaço se tornou algo tão presente em nossas vidas que já se tornou crônico.
O cansaço pode ser provocado por fatores físicos, como por exemplo excesso de trabalho, falta de vitaminas, problemas hormonais, e tantos outros que precisamos checar de forma mais atenta. Porém, quero aqui me ater ao desânimo que nos permeia psiquicamente: o peso dos golpes levados pela vida, ou seja, situações difíceis e que nos fazem pelejar para nos recuperarmos; aprisionar-se em nossos próprios critérios, sendo que, nesses casos, os critérios são extremamente rigorosos e estão em consonância com o agradar aos outros, ser perfeito e impressionar sempre; levar a cabo preocupações indevidas, ou seja, se preocupar com o que dará certo, com o que dará errado, enfim, preocupações com o futuro. Então, entendemos que a soma desses fatores pode nos levar a um gasto de energia excessivo, gerando todo esse desânimo e cansaço, às vezes por muito tempo, que sentimos. E então, nos tornamos sem disposição, letárgicos, e, muitas vezes, emocionalmente instáveis. Conseguem imaginar quantos de nós sofre a tanto tempo com essas questões?
A única forma de lidarmos com o desânimo e o cansaço e, assim, nos tornarmos pessoas entusiasmadas novamente, é reconhecer que o cansaço existe. Obviamente fazer isso é muito desconfortável, pois assumir que se está cansado é afirmar que temos limites. E, para muitos, os limites já foram extrapolados há muito tempo, pois temos a necessidade de sermos “fortes”, “invencíveis”. Reconhecida essa vulnerabilidade, podemos então pensar em como melhorar o nosso ânimo. E, para fazer isso, podemos voltar um pouco no tempo e pensar: O que me fazia animado? Quais projetos, sonhos e objetivos me faziam vibrar e ser alguém motivado e esperançoso? Quais foram as dificuldades que já tive na vida e, por meu mérito superei? O que posso fazer de forma diferente do que faço hoje, como tentativa? Além dessas reflexões, fincar os dois pés no chão da realidade e não idealizar situações da vida nos faz entender melhor daquilo que precisamos hoje.
Portanto, o cansaço e o desânimo nos fazem enxergar os nossos limites. E não para nos conformarmos, mas para que possamos ver o mundo de forma mais realista. Para muitos de nós é um desafio percebermos nossas necessidades, porém é uma excelente maneira de treinarmos o nosso olhar pois, assim, podemos buscar formas de viver mais plenamente e com mais sabor. Merecemos mais que sobreviver.
Li esses dias a seguinte frase: “Pessoas cansadas não sentem paixões. Nada emana delas. É certo que fazem muita coisa, mas sem ardor. Sem paixão, nada flui de nós” (Anselm Grun). Que possamos, no ano vindouro, emanar entusiasmo e alegria, mesmo diante da imperfeição e das dificuldades. Com carinho,
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Natalia Mondoni, psicóloga; Instagram @psinataliamondoni