Psicologia do Trânsito (II)

Há 50 anos o entregador de leite vinha de charrete. Pegava o litro vazio na frente de casa e o trocava por um cheio. No final do mês passava para receber. Ao me recordar disso sinto uma nostalgia.

Quando um carro passava na rua todos paravam para observar. Era um momento especial. Quem foi criança nessa época se lembra dos pais falando para tomar cuidado ao atravessar a rua. Nossos pais ficavam de cabelo em pé!

Com o violento crescimento da indústria automobilística no mundo todo o trânsito foi se modificando velozmente. Mas o que aconteceu que o cidadão não tem mais o mesmo cuidado de antes?

A sociedade pré-globalização foi educada com a régua do certo/errado. Nosso comportamento era moldado de acordo com o que nossos pais nos ensinavam. Hoje não. Hoje o modelo é buscado no grupo de iguais, e nossa relação com a lei social mudou. A ousadia antes vista como ‘atrevimento’ passou a ser valorizada em nosso comportamento geral.

Quando dirijo percebo a mudançaradical. Todos disputando o mesmo espaço ao mesmo tempo. O ‘mais protegido’ acaba sendo também o mais responsável, e isso estimula a ousadia do outro no trânsito. Os mais vulneráveis deveriam também ser mais cautelosos, mas na sociedade atual globalizada, sem limites, o comportamento no trânsito sofre seus efeitos. Nossos comportamentos e hábitos mudaram; da mesma forma mudaram os sintomas.

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“Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro”. (Sigmund Freud)

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Estou loucamente apaixonada pelo meu psicanalista. Declarei-me, ele esboçou um sorriso edisse que amor é bom, que a recíproca é verdadeira, mas nunca aceitou um convite meu! E que se fosse fora do consultório teria rolado,ainda me perguntou por que eu não tentava conquistá-lo. Dei-lhe um perfume e conversávamos semanalmente do exterior por telefone. Falei queestou sofrendo e vou me entregar a outro homem para esquecê-lo, e disse que poderia indicar outro profissional se eu não puder continuar,mas diz que quem entra ali não sai mais. Estou prestes a lascá-lo um beijo na boca dentro do consultório!

Ana, 30.

 

Muito contundentes algumas afirmações: o desafio da conquista, os telefonemas internacionais, toda a descrição já caracteriza o romance. O que não está claro a mim é o que sua pergunta pretende. Parece só faltar chegar aos ‘finalmentes’. Seria o motivo de sua angústia? Outra possibilidade é a de poder se posicionar como o objeto de desejo daquele desejado por tantas(?). No final da questão você já diz que vai ‘lascar-lhe’ um beijo na boca. É interessante que essa atitude surge no momento em que perde o lugar de objeto de desejo ao indicar-lhe outro profissional.

Estranho ele dizer que ‘fora do consultório teria rolado’. O risco de ele perder o lugar de psicanalista na relação é muito maior que a possibilidade de resultados eficazes.

Mas dá para afirmar que a relação clínica se foi.

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