Generalidade não é mérito

Plinio Montagner

 

É de se imaginar que a espécie humana tem três tipos de pessoas: os normais, os gênios e os doidos. Entretanto é bom dizer que qualquer um dos três tipos pode apresentar comportamentos inimagináveis, tanto para o bem, como para o mal, principalmente em momentos de insegurança, de conflitos, de paixões, de forte emoção e de medo.

A genialidade é uma pedra rara que pode ser descoberta ao acaso e pela ciência em qualquer fase da vida.  Um fato curioso é que alguns gênios morrem sem saber que foram superdotados.

Seria terrível imaginar a humanidade sem as obras de supergênios como Einstein, Pitágoras, Da Vinci, Van Gogh, Stravinsky, Bach, Arthur Rubinstein, Mozart, Pavarotti, Platão, Nietzsche, Goethe, Agatha Christie, Balzac, Shakespeare, Michelangelo, entre outros.

A genialidade é um privilégio que nasce com o indivíduo, mas é um peso ao afortunado.  O superdotado, sendo superior por natureza, tem o dever de expressar sua genialidade. Gênio que não se destaca é um indolente. O que atenuaria sua passividade  seria se fosse nascido e vivido em um meio desfavorável.

Gênio, que sabe que é gênio, e desdenha esse privilégio, comete uma afronta à sociedade humana.

Felizmente tal não aconteceu com Pelé, Ayrton Senna, Clarice Lispector, Machado de Assis, Nelson Freire, Oscar Niemeyer, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Morais, Zequinha de Abreu, Cesar Lattes, Carlos Chagas, Cora Coralina, Santos Dumont, Lupicínio Rodrigues, outros e outros, que conduziram sua arte à quintessência da perfeição.

Os indivíduos normais, embora não sendo gênios nem loucos, estão suficientemente aparelhados para enfrentar a vida. As diferenças são as dimensões das dificuldades. Enquanto os gênios desempenham tarefas complexas de forma fácil e natural, os outros apresentam certo grau de dificuldade, ou tiram nota zero mesmo.

Os dicionários assim definem dom: “É uma palavra que veio do latim e significa donu, dádiva, um presente genético”.

Dom não é mérito porque é uma característica congênita, que neste caso, o autor do mérito seriam seus ascendentes ou o efeito de uma traquinagem genética.

Dessa maneira, os gênios não devem se sentir superiores. Se são, não há dúvida, mas gabar-se por isso não tem sentido. O mérito inerente ao indivíduo superior não pode ter um peso igual ao dos menos favorecidos. Nos ringues os atletas são classificados pelo peso. Ninguém tem a obrigação de vencer os mais fortes, os mais esclarecidos, os mais experientes e melhor treinados.

Cabe ao gênio tirar proveito de seu talento; e aos outros, resta a opção de se virar, trabalhar mais, como a metáfora empregada pelo escritor Rubem Alves em seu livro – “Ostra feliz não faz pérola”.

São os alunos indisciplinados que fazem bons professores.  A imperfeição que valoriza a virtude. O trabalho, o estudo, as perdas, os erros, as quedas, as derrotas e os acidentes as causas de formar melhores motoristas, cirurgiões, advogados, escritores, cientistas, engenheiros, maridos, pais, filhos…

Ninguém nasce sabendo? Tudo é relativo.

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Plinio Montagner, professor aposentado

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