Nossas cabeças nossas colheitas

Eloah Margoni

 

Meu pai tinha uma frase que me era muito antipática: “quando a cabeça não presta, o corpo padece”. Detestava a colocação mas, com o passar do tempo, não pude deixar de dar-lhe razão em muitíssimos casos.

E vou falar agora dos danos causados pelas tempestades,por mini tornados. Ora, quanto maior o efeito estufa e, consequentemente, as alterações climáticas, mais virão. E em vindo, o que esperar de uma cidade degradada como a nossa, rodeada por canaviais, sem cinturões de proteção de matas? Devastação apenas. Não é surpresa nenhuma.

As poucas árvores que existem na cidade, bem poucas em relação ao tamanho de Piracicaba, estão desprotegidas, tornando-se as vítimas, as grandes sacrificadas e, em seguida, as vilipendiadas, como se fossem elas as perigosas causadoras de desastres. Não são!

O que eu disse mais acima se comprova facilmente. Moro agora num condomínio, que até fica num local alto, mas rodeado por um cinturãozinho de mata ciliar. Após as tempestades, saí em revista pelo perímetro da mata. Sabem quantas árvores vi quebradas ou arrancadas dentro desta? Nenhuma! Sabe quantas árvores caíram dentro do condomínio? Nenhuma também. Cá dentro não há tantas árvores altas e com copas grandes, mas as que existem contam com áreas adequadas para firmar raízes e, assim, manterem o equilíbrio.

Igualmente estive na região da pequena mata entre o Engenho Central e o bairro Terras do Engenho. Verifiquei que, ali, tampouco havia qualquer árvore caída, quebrada ou arrancada. Então as matas protegem, não? Sem fazerem barreira frontal contra os ventos fortes, domesticam os mesmos, atenuam, seduzem e os acalmam dentro de si. Maravilhosas matas! Essenciais, portadoras de vida.

Cidades tolas e degradadas no geral… Espero que aqui não se vá acirrar a já clássica e conhecida dendrofobia. Porque rufos, muros, telhados, placas, outdors, fios de eletricidade, vedações de metal, transformadores estarão, sem as árvores, cada vez mais aptos a caírem sobre nós e nossas imprestáveis cabeças, numa previsível consequência que nos fará padecer, por não conseguirmos agir de modo correto, infelizmente.

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Eloah Margoni, médica

 

 

 

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