Memórias que não se apagam

Elda Nympha Cobra Silveira

 

A zona rural está se aproximando cada vez mais dos centros urbanos. Alqueires e mais alqueires são ocupados pela cana de açúcar e o pelo gado. A população global cresce mais do que planejam os sociólogos e economistas, apesar de todos os programas e projetos de controle populacional, um critério inteligente que busca moderar a expansão da população, porque é obvio que será necessário mais alimento, mais moradias, serviços sociais para enfrentar essa demanda. Muito longe de ter mais moradia, alimentos e melhores condições humanas de vida, mais de 1 bilhão de pessoas correm o risco de morrer de fome, de frio, por causa de doenças comuns, em mais de quarenta países onde a miséria e a desorganização social são uma constante histórica e dramática.

Enquanto isso, em outro grupo de países considerados em desenvolvimento e no grupo dos países desenvolvidos, os campos para a  criação de gado de abate está sendo priorizado em detrimento das florestas, que muitas vezes são derrubadas para esse fim, comprometendo a ecologia e a saúde da Terra. Esses espaços poderiam ser priorizados para o plantio de grãos, frutas, legumes, cereais e verduras que são mais benéficos para a saúde do homem. É uma preocupação constante em todos os países produtores de carne e de álcool diminuir o espaço reservado ao gado e à cana. Os cientistas já experimentam alguns projetos pioneiros, como a criação de gado confinado, opção largamente difundida em toda a Europa, e as pesquisas que criaram uma variedade de cana mais nutritiva e mais produtiva, que diminuiu em 10 anos em um terço a área mundial de terra plantada.

Os cientistas têm ainda outras prioridades. O uso de certos tipos de hormônios perigosos à saúde humana, é proibido e punido com multas e prisão, desde a década de 90, bem como, depois de anos de campanha dos ambientalistas e pacifistas, todos os países se uniram a partir do começo deste século, para obrigar com severas leis, menos crueza e violência no abate de animais de corte, para melhorar a qualidade da carne.

Mesmo com todo esforço para tornar os humanos vegetarianos, nos tempos primitivos a caça era um acontecimento importante na vida das tribos, porque a ingestão da proteína oferecida pela carne era primordial para a sobrevivência da espécie. Mesmo que não sejamos carnívoros por natureza, o consumo de carne está no nosso cardápio e na nossa carga genética, e muitas correntes, até patrocinadas pela Ciência, querem mudar isso, não pela falta de conhecimentos, mas porque acreditam que se o homem mudar sua dieta estará subindo na escala da evolução.

Ha cinquenta anos atrás em Piracicaba o gado era transportado pelos trens e chegavam na Estação da Paulista para serem descarregados onde hoje é a Rua do Rosário e acredite, ele era conduzido a pé descendo até o Matadouro onde seriam abatidos para a venda da carne nos açougues. À noite ninguém podia ficar sentado em frente suas casas, como era costume naquela época, para bater papo com vizinhos, porque de repente a boiada surgia do nada, sempre à noite, muitas vezes assustada, querendo pular dentro dos jardins das casas.As crianças não podiam ficar brincando nas calçadas nesse trecho da rua.

Quando nos lembramos disso nos dias de hoje nem dá para acreditar numa coisa dessa! Mas que era um espetáculo fascinante, isso era! As crianças assistiam debruçadas nas janelas das casas e imitavam os comandos dos peões. É assim mesmo. O progresso tem que nos beneficiar, mas nem tudo está sendo usado como se deve. Mas só o tempo dirá onde erramos e onde acertamos e se possível corrigir os nossos erros.

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Elda Nympha Cobra Silveira, escritora, artista plástica; e-mail: [email protected]  

 

 

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