Jogo político

Antonio Lara

 

Fazer política em qualquer lugar requer, acima de tudo, grande versatilidade retórica, planejamento estratégico, conhecimento das demandas vitais do eleitor, habilidade para vender a própria imagem e, fundamentalmente, poder econômico. Que de fato constrói status publico e consegue converter isso em rendimento eleitoral, esta bem cotado para ser um “legitimo” representante do povo. Inda que a sua vida progressiva seja extramente desfavorável a qualquer ambição política, ele terá a seu favor a possibilidade, sempre real, de manipular carismaticamente a população, apelando para as suas paixões e necessidades intensas (moradia, saúde, educação etc.). Na verdade, o posicionamento ante as aspirações dos que ele pretende “honrosamente”, representar, precisam ser apreciados com muito zelo e cautela, para conquistar a confiança e anuência daqueles que, no ápice do processo eleitoral, delegaram a ele responsabilidade de ser o porta-voz dos seus anseios.

Há, no entanto, em todo jogo político, uma gama imensurável de interesses serem atendidos, defendidos e alcançados; por isso, o peso dos investimentos nas campanhas é tão grande e acentuado, principalmente por um número sempre grande de empresas ou grupos de alto poder econômico. Hoje, de fato, o Estado é visto como meio seguro de aquisição desavergonhada de recursos. A prevaricação, portanto, se tornou tão comum que chegamos ao cumulo de encará-la no âmbito corrente da normalidade.

Evidentemente, dessa forma, acabamos legitimando os infames politiqueiros em sua praticas fraudulentas. Por ano, são centenas de milhares de reais desviados para a aquisição de mansões, iates, carros de luxo, festas suntuosas etc., sem que nada, absolutamente nada seja feito, contra a instauração do império das impunidades. Então, diante desse quadro aterrador, a coerência está em defendermos abertamente o direito á impunidade. O que não deixa de ser algo absurdamente “justo”, celebrando assim, na vergonha de nossa covardia, o medo de sermos de fato e, sobretudo de direito, real e verdadeiramente representados a contento.

Os senhores da política, são os soberanos palacianos da gestão pública, aqueles remanescentes do jogo paternalista sujo, envergonhando a nobreza da população em sua inocência e omissão, quando a expectativa de mudança se traduz em doces e escusos descaminhos da republica brasileira, sedimentadas pelas sendas ideológicas arraigadas a concepções místicas que envolvem a áurea daqueles encarregados da tutoria legítimos da coisa pública. São eles, os senhores do holocausto social brasileiro. Os mesmos defensores de ações paliativos (as “bolsas”, as “cotas”, etc.) nutrindo gentilmente os bolsões de miséria desse país formandos berços esplendidos para os currais eleitoreiros, enquanto à surdina assaltam e desnudam as esperanças já calcinadas do tolo desinfeliz na desfaçatez da sina que o persegue: a subsistência manipulada.

Manuel Bandeira com grande genialidade traduz poeticamente esse sentimento em Estrela da vida Inteira: “Nunca dantes me sentira/ Tão desinfeliz assim:/ É que ando dentro da vida/ Sem vida dentro de mim”.

Contudo, o publico se torna cada vez mais privado, principalmente por encarnar, em sua personificação cívica, interesse de grupos econômicos os mais variados, sem existência, por menor que seja de qualquer escrúpulo quando se tratas de manusear com interesse privado aquilo destinado ao bem comum. Portanto, enlameados pela própria desonra, varrem insensivelmente os cofres de seus recursos destinados as ações de cunho humano e cívico, impondo a dura realidade desafiadora do abandono do cidadão por parte do Estado democrático representativo de direito. Dessa forma, vemos configurar-se magistralmente um Estado alcançável, em participação e direito, apenas aos mais afortunados, ou melhor, para os que podem fazer o seu poder econômico um enlace forte na consolidação real de um estado de coisas gerado somente para os donos do capital, em seus anelos delirante de poder e honra fútil, porém altamente rentáveis.

Eles são os bastardos inglórios do cenário político brasileiro. Parecendo intrépidos encenadores cômicos do Inferno de Dante, em sua Divina Comédia.

Amordaçados pelos entraves à sua verdadeira práxis cívicos, além de despojados dos recursos a uma expressiva tomada de decisão, ficam os homens comuns, em sua torre de miséria, subordinados impiedosamente aos desmando e as preces abjetas dos cantos messiânicos, encenados em monólogos nos palanques repletos de correligionários hipócritas, alimentados pelas gotas imundas que escorrem da boca do tolo falastrão, enquanto seduz enganosamente a multidão faminta de justiça e igualdade sociais, trajando finas vestes sujas pelo penacho desgovernado, alimentando a raivosa vaidade do encantador de rebanhos.

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Antonio Lara, articulista

 

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