Cidadania (III)

O segundo turno das eleições de 2010 para presidente foi disputado palmo a palmo. Alguns episódios entre as partes já eram esperados, mas um nome chamou a atenção nas redes sociais: Mayara Petruso.

Revoltada com a derrota de José Serra, a estudante de Direito passou a atribuir a “culpa” (com muitas aspas) ao povo nordestino. Disparou no Twitter: “Nordestisto não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado!” (o ‘nordestisto’ erroneamente grafado se tornou uma hashtag à época).

No Facebook declarou: “Afunda Brasil. Dêem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalha pra sustentar os vagabundos que fazem filhos pra ganhar o bolsa 171”, insinuando “burrice política” além do explícito ‘vagabundos’. O mais grave é ela ser estudante de Direito! Que advogada teria se formado?

Porém, o que está em questão é outra coisa: liberdade de expressão é dizer o que se quer? Sim, se, e somente se, estivermos prontos a arcar com o ônus de nosso dito, seja em casa ou numa rede virtual a todo o mundo.

A cidadania está no eixo liberdade/responsabilidade, como diz Renato Janine Ribeiro (Professor Titular de Ética e Filosofia Política da USP). Responsabilidade pelo que dizemos ou fazemos. Fora disso só com neurose que invariavelmente cai na tirania narcísica do ego.

 

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“Não me lembro de nenhuma necessidade da infância tão grande quanto a necessidade da proteção de um pai”. (Sigmund Freud em “O Mal Estar na Civilização”)

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Meus pais são separados há seis anos, mas minha mãe é muito insegura e reclama de tudo, inclusive falta de dinheiro. Meu pai ajuda como pode, sou casada e moro distante, mas meu irmão de 13 anos está faltando às aulas com vômitos, dor de cabeça, tontura, mas os médicos com os exames não chegam a um diagnóstico. Ele já perdeu 15 kg em um mês. Estou desesperada!

Maria.

 

Ao dirigir a questão a mim pressupõe bases emocionais no problema. Mas a perda de 15 kg em um mês é um dado preocupante que merece atenção médica urgente juntamente com nutricionista até que possa se chegar às raízes do problema. De certa forma você já indica ser um reflexo da não aceitação de vida de sua mãe. Mas e daí? Saber isso ajuda em quê? Como filho e morando com ela ele está sujeito a tudo o que lá acontece.

Embora sua preocupação seja seu irmão, talvez seu desespero, apesar de bem fundamentado, esteja escamoteando suas queixas sobre sua mãe, por exemplo. Sua intolerância com ela está nitidamente retratada. Que desespero é esse? Pois seu irmão tem a mãe pra cuidar… Ou não? Não é lá que ele mora? Sim, ele pode não estar recebendo os devidos cuidados.

A situação necessita de ação! Não cabe culpar ninguém. Que atitudes seus pais estão tomando? Ou seria só você a pessoa ‘desesperada’? Está no lugar da mãe dele? Para além da questão trazida, deve refletir sobre o que isso está representando a você.

 

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