José Renato Nalini
A educação que prevalece é aquela que determina a previsibilidade do comportamento, a observância a regras rígidas, a uniformidade coerente para todas as atividades exercidas pelo ser humano.
Algo que inibe a criatividade, que é muito próxima à improvisação. Os artistas são os mais emblemáticos improvisadores. O intérprete jazzístico Wynton Marsalis afirma “Todos nós improvisamos. Quem fala, improvisa. No nível mais fundamental, a improvisação é nosso estilo de vida”. Ele recomenda como boa tática a improvisação em quase tudo: comer aquilo que nunca se experimentou; optar por trajetos diversos a cada dia; visitar pessoas nunca visitadas. Conversar com pessoas desconhecidas. Aprender coisas novas. Inventar coisas, ter novas ideias.
A boa improvisação não é espontânea, como possa parecer. Ela deriva de uma conjugação de conhecimento e imaginação. Se conhecimento é algo que se adquire, imaginação é algo que flui de nossa mente. A improvisação é alimentada pela criatividade. Quem tem olhos para enxergar o mundo não pode deixar de ser criativo. Inspiração nasce de boa observação. Os inspirados sempre são pessoas formidáveis, atraentes, sedutoras ou até terríveis.
Mas improvisar não significa perder tempo, experimentar aleatoriamente coisas novas. Saber improvisar é fazer com que seus talentos e habilidades alcem nível superior. O improvisador por excelência tem noção de que é bom em alguma coisa e procura fazê-la de forma ainda melhor.
O Brasil está num momento em que é urgente improvisar. Para resolver problemas aparentemente insolúveis. Continuar a dar as mesmas respostas para os mesmos problemas significa ficar na mesma. Na pasmaceira, no desencanto, no desânimo, na desesperança.
Será que não poderíamos improvisar para ter uma convivência melhor entre as pessoas? Ousar ser gentil, em lugar de ser agressivo? Ousar falar bem, ao invés de denegrir o próximo? Procurar saber porque uma pessoa está infeliz, ou isolada, ou solitária, em lugar de considera-la esquisita?
Um improviso saudável para esta Pátria enferma – pois ódio, ira, insensibilidade, falta de compaixão é doença – seria surpreender a todos, adotando táticas de empatia, de generosidade, de compaixão e de amor. Se não mudar o mundo, já mudou você. E é um excelente começo.
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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL); foi presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo