Rubens Santana de Arruda Leme
Antes que me confundam com os manipuladores da fé alheia, que usam Jesus Cristo como cabo eleitoral, devo dizer que o título desse artigo não passa de força de expressão.
Faz algum tempo que defendo a coincidência de todas as eleições, em que pese a minha insignificância na formação da opinião pública nacional. Sem esgotar o assunto, faço aqui algumas justificativas para o meu posicionamento :
Gastos exorbitantes, nesse momento em que dezenas de milhões de brasileiros (as) estão dependendo do auxilio emergencial do governo; abandono de mandatos, no caso das eleições para governadores, deputado e senadores, para disputar outros cargos, num total desrespeito ao eleitor(a); disputas eleitorais intermitentes, nem sempre éticas, atrapalhando as gestões já ineficientes das cidades, estados e do país. Quero destacar aqui, que não sou contra o patrocínio público das campanhas, os valores é que são exagerados e o momento não é oportuno. O fim do patrocínio público iria privilegiar ainda mais os candidatos com maior poder econômico.
Necessário se faz uma reforma política mais radical, a qual poderia ser realizada nesse período anterior ás eleições de 2022, se as eleições fossem unificadas, evitando-se inclusive os riscos e dificuldades em se fazer os pleitos municipais desse ano em plena pandemia.
É irracional, para dizer o menos, continuarmos tendo essa quantidade absurda de partidos políticos, a maioria legendas de aluguel, franquias religiosas, outros mudando só a sigla para abrigar velhas raposas envergonhadas das suas legendas anteriores ou, pelo fato da legislação eleitoral, lhes dar maiores chances de se elegerem em outra agremiação política.
Um exemplo dessa discrepância que serve para o país todo está aqui em Piracicaba, onde teremos mais de cinco centenas de pleiteantes à vereança. Qualquer observador mais atento perceberá que a imensa maioria dessas candidaturas, eu arriscaria uns oitenta por cento, é formada por laranjas ou inocentes úteis, resultado da nossa esdrúxula legislação eleitoral. A quem essa anomalia interessa? Certamente aos partidos com maior poder econômico, em geral aqueles sem compromisso programático com os mais necessitados, a serviço de uma elite representada por não mais que dez por cento da população, useiros e vezeiros do clientelismo, primo pobre da corrupção.
Falando em clientelismo, os antídotos do retorno das administrações regionais e a radicalização da democracia participativa, seriam muito eficazes para a diminuição significativa dessa doença da nossa capenga e ultrapassada democracia representativa.
O fortalecimento dos partidos autênticos, programáticos; o voto distrital, dividindo-se as cidades em regiões proporcionalmente ao número de cadeiras no legislativo, permitindo-se apenas uma candidatura por partido em cada região, assim como o direito a apenas uma reeleição, são medidas urgentes que precisavam ser adotas, mas infelizmente ainda não foram aprovadas via uma eficaz reforma política.
É evidente que o poder econômico, mais uma vez, irá financiar um grande número de candidatos (as) laranjas, os quais, premeditadamente, irão prejudicar candidaturas de lideranças autênticas dos diversos bairros da cidade, utilizando-se desse nosso arremedo de democracia representativa. Não falo aqui daqueles (as) militantes de partidos autênticos, programáticos que vão para o sacrifício no sentido de ajudarem seus partidos conquistarem alguma vaga no legislativo. Por questões óbvias, os já ocupantes dos cargos, tanto no executivo como no legislativo, levam grande vantagem na próxima disputa eleitoral.
Basta observarmos a formação das Câmaras Municipais, para constatarmos essa distorção do processo eleitoral. Quantos representantes das mulheres, donas de casas, negros, sindicatos de trabalhadores (as), micro empresários, trabalhadores (as) informais (são milhões no Brasil) entre outros setores importantes, têm assento em nosso legislativo? Estão todas as regiões da cidade representadas em nossa Casa de Leis ?
Cabrestos religiosos ou clientelistas ligados às profissões que têm grande influência sobre a população mais carente e despolitizada, como as das áreas de comunicação, saúde, direito, ultimamente também segurança, entre outras seriam minimizados com a adoção do voto distrital, fato que seria extremamente benéfico para a nossa ainda frágil democracia.
Infelizmente, para esse ano, a realização de eleições é fato consumado. Cabe-nos como cidadãos conscientes, com as poucas armas que temos, tentarmos uma redução de danos, em mais uma viciada eleição municipal.
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Rubens Santana de Arruda Leme, Técnico químico, Supervisor de Higiene e Segurança do Trabalho, Representante Comercial Autônomo (e-mail: [email protected])