O que significa dar a outra face quando formos agredidos?

Álvaro Vargaas

 

Jesus, mudando um paradigma que seguia o princípio do “olho por olho, dente por dente” (que consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena), apresentou outra forma de reagir perante as agressões que sofremos, orientando: “Ao que te bate numa face, oferece-lhe igualmente a outra” (Lucas, 6:29). Esse ensinamento, se for interpretado apenas em seu sentido literal, não faz sentido, considerando o atraso moral em que vivemos nesse planeta. Segundo o espírito Amélia Rodrigues (A Mensagem do Amor Imortal, cap. 13, Divaldo Franco): É certo que Jesus utilizou-se de uma figura de linguagem forte, porque não poderia estimular e aceitar a ferocidade humana, legalizar a injustiça, de forma a permitir aos violentos a ousadia de destruir impunemente, de infelicitar sem termo.

A lei de Talião (1770 a.C.), que era praticada pelos judeus, teve a sua origem no código babilônico de Hamurábi, que na época, foi um freio à belicosidade das pessoas, evitando uma resposta desproporcional às agressões que tivessem sofrido. Jesus, considerou a nação judaica suficientemente esclarecida, e propôs abolir a vingança em qualquer situação. Entretanto, isso não significa ficar impassível, pois, a preservação da vida e de nossos direitos, é uma postura necessária, para evitarmos o caos social. Diz ainda o espírito Amélia Rodrigues: “não devemos permitir que a agressividade e a violência tomem conta da Terra, e os fracos se transformem em bestas de carga dos fortes. A nova ordem (Boa-nova) é um convite à paz, um repúdio à violência, uma proposta à coragem de não revidar mal por mal”. Jesus, condenava veemente, a exploração do povo pela “casta” sacerdotal de sua época (mais de 20 000), e quando preso, ao ser esbofeteado por um guarda, não ficou passivo frente a agressão e questionou: “Se falei mal, prova-o, mas se falei bem, por que me bates?” (João 18:23). O Mestre não reagiu, mas com a sua postura demonstrou tolerância, não covardia; compreendeu a limitação moral do agressor, e sem timidez, teve a coragem de procurar esclarecê-lo sobre o equívoco praticado.

Da mesma forma que temos a necessidade das instituições que reprimem o crime, encarcerando os facínoras, aqui na Terra, para manter a lei e a ordem na sociedade, o mesmo ocorre no mundo espiritual, particularmente nas zonas próximas da crosta planetária. A transformação moral da humanidade, necessita de tempo, para superar a animalidade. O espírito André Luiz (Nosso Lar, Chico Xavier), descreve a dificuldade enfrentada pelos que regressam para a erraticidade, sem o devido preparo para essa viagem; com condicionamentos mentais arraigados, demoram em se adaptar na vida após a vida. Em determinada época, nessa cidade (Nosso lar), o governador necessitou ser enérgico com os espíritos moralmente limitados, que não queriam libertar-se dos hábitos que mantinham quando encarnados aqui na Terra. Reativou os calabouços do “Ministério da Regeneração”, e ativou as defesas da colônia, pois, o intercâmbio clandestino desses habitantes com o Umbral, criou um risco de invasão, das entidades infelizes que habitam essas regiões inferiores. O espírito Camilo (Memórias de um Suicida, Ivonne Pereira), descreve que os espíritos confinados no “Vale dos Suicidas”, eram vigiados por soldados indianos (Legião dos Servos de Maria), que com lanças em punho, mantinham a segurança do local.

O nosso corpo físico, nos foi “emprestado” por Deus, como uma oportunidade de utilizá-lo, o melhor possível, em nosso aprendizado aqui na escola terrena. Portanto, temos o dever de preservá-lo. O Mestre nos ensinou a respeitar e amar o nosso próximo, mas isso não pode ser uma desculpa, para nos acovardarmos, caso seja necessário esboçarmos uma reação, com o objetivo de nos protegermos. Mas, se isso vier a ocorrer, devemos apenas reagir no limite de nos protegermos, nunca com o intuito de vingança, de algum mal que nos tenha sido afligido.

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D, presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

 

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