Giuliano Pereira D’Abronzo
Estive eu conversando com um amigo sobre o valor dos ensinamentos clássicos. Apesar de os ensinamentos de pensadores gregos já ultrapassarem os dois mil anos, muitos deles permanecem atuais, e vários deles ainda são utilizados por nossa engenharia ou outra área do conhecimento.
Falávamos sobre a atualidade de Platão e Aristóteles, o quão são ainda atuais os estudos sobre as relações humanas, particularmente na política.
Um partiu do método indutivo o outro do dedutivo. No entanto, o resultado é o mesmo e a base da teoria política até hoje em voga está no estudo desenvolvido por ambos.
No caso de Platão, ele defende a ideia de que o governante precisa ser preparado para gerir a coisa pública. Em sua proposta, não é qualquer pessoa que pode administrar o Estado, é uma pessoa que passou por formação específica para isso, para tornar-se o rei-filósofo. Não é um mero termo, fruto da junção de duas palavras, é um líder (o rei) que busca o conhecimento para colocá-lo em prática. É o líder que busca a essência das coisas, sobretudo do auto-conhecimento, e a partir daí é capaz de entender as nuances que permeiam o universo humano.
Trazendo para os dias atuais, será que vemos políticos que apresentam essa característica? Será que vemos políticos que buscam o auto-conhecimento antes de almejar o poder? Quantos não são aqueles que nada demonstraram à sociedade e se avocam o direito de pleitear um cargo público? Quantos não usam de estratagema, ludibrio, mentiras para garantir apoio?
Platão defendia que a pessoa deve ter competência, e a competência é vista através da formação da pessoa, com estudo e desenvolvimento voltados para a administração da coisa pública, além de demonstrar saber usar esse conhecimento. É a diferença entre Ter o conhecimento e Ser o conhecimento. Não basta ter, é preciso ser. O ter pode apodrecer, por não saber usar. O ter pode corromper, pois não está consolidado. É o ser que mostra a sedimentação e ponderação na hora de usá-lo.
Ora, inúmeras são os conhecimentos que um pleiteante a um cargo desses deveria almejar, antes de se sentir apto para exercê-lo. No entanto, nada vemos nesse sentido. Vemos a luta pelo poder, mas não o que fazer com ele para o bem de todos.
Para facilitar o entendimento disso, façamos um exemplo:
Se precisamos de tratamento médico, procuramos um médico na especialidade necessitada e buscamos aquele que demonstra competência. Se a intenção é construir uma casa, será um arquiteto ou engenheiro civil que mostre ser capaz disso. E mais ainda, em ambos os casos, queremos que façam seu melhor, para que consigamos restabelecer a saúde ou ter uma casa para morar.
Por que para administrar o Estado esse princípio não pode ser aplicado? Por que pode ser qualquer um, pessoas sem formação, pessoas com escrúpulos duvidosos ou pessoas envolvidas em crimes? Por que não se aplica o mesmo princípio, qual seja, de zelo, respeito, probidade? Por que se exige formação para todo tipo de atividade, mas não se exige para quem quer governar? Isso é no mínimo duvidoso, e mostra o quanto ainda não aprendemos com Platão.
Em breves e superficiais observações, percebemos que Platão e Aristóteles, já que ambos chegaram ao mesmo ponto, não só são atuais, como ainda temos muito que aprender com eles.
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Giuliano Pereira D’Abronzo, bacharel em Direito, servidor público federal