Antonio Roque Dechen
A pandemia causada pelo vírus corona ainda é motivo de grande preocupação. As máscaras vieram para ficar e o distanciamento social continua, não sabemos até quando mas, com certeza, vai demorar para que o nosso relacionamento humano volte a ser intenso como era antes do início dela.
Não será fácil nos ajustarmos aos novos hábitos, pois é no mínimo estranho assistir a uma partida de futebol, mesmo que pela televisão, sem que a torcida esteja nas arquibancadas. É um cenário vazio, falta o calor humano, o entusiasmo, a alegria. São também estranhas as nossas aulas pela internet, palestras e congressos por videoconferências. Enfim, será que retornaremos ao que considerávamos normal, ou o distanciamento será cada vez maior no nosso relacionamento diário?
No início da pandemia, um cenário até de terror nos deixou preocupados com a incógnita como sairemos dessa situação: será que sobreviveremos? estamos sobrevivendo sim, atentos e esperançosos para que ela termine logo e possamos retomar a normalidade.
Nas cidades, ficamos enclausurados em nossas casas e apartamentos, recebendo nossos mantimentos pelo delivery. Nos esquecemos dos nossos amigos do campo que continuaram a produzir nossos alimentos. Afinal, nada nos faltou, não tivemos nenhum racionamento e nem elevação exorbitante de preços devido à pandemia.
Nunca avaliamos as dificuldades daqueles que na difícil atividade de campo que, independente da pandemia, antes do raiar do sol já estão a postos para cuidar da sua árdua missão de produzir. São nobres guerreiros que diariamente vão à luta, plantando, cultivando e colhendo alimentos e com isso cultivando a paz, pois o combate à fome é um dos principais fatores de segurança e qualidade de vida.
O Brasil é hoje mundialmente estratégico graças ao seu potencial de produção de alimentos, temos terras, sol o ano todo, água e, principalmente, os heróis anônimos que diariamente trabalham e colhem a energia do sol e a transformam em uma expressiva produção que é colocada em nossas mesas. São milhões de heróis anônimos. Obrigado agricultores, pelo trabalho, pelo alimento e por nos garantir a vida.
Hoje, na agricultura como um todo, é grande a preocupação com a segurança alimentar tanto para os produtos destinados ao consumo interno quanto para os destinados à exportação, os protocolos de segurança alimentar são devidamente fiscalizados para garantir essa segurança. Os cuidados nos controles dos resíduos dos produtos usados nos combates às pragas e doenças são rigorosos, pois a existência dos mesmos em níveis acima dos permitidos inviabilizam a comercialização.
A produção estimada de grãos no Brasil neste ano, segundo o IBGE, é de 246 milhões de toneladas, ou seja, uma produção superior a uma tonelada por habitante, um privilégio de poucos produzir tanto alimento. Temos que ser criteriosos no nosso sistema produtivo agrícola, pois a pandemia vai passar e a população continuará aumentando e demandando sempre mais alimentos.
Norman Borlaug, Nobel da Paz 1970, sempre terminava suas palestras com a frase: “Não se constrói a Paz em estômagos vazios”. Nosso reconhecimento a todos os profissionais da área agronômica e, principalmente, aos agricultores brasileiros pela nobre missão de cultivar e conservar o solo, garantindo a sustentabilidade do ambiente e a existência humana.
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Antonio Roque Dechen, presidente da Fundação Agrisus, Membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Professor Titular Aposentado do Departamento de Ciência do Solo da Esalq/USP