José Renato Nalini
Alheio à pandemia, à miséria, ao desemprego, o establishment vai manter as eleições municipais. Preservou os bilhões dos Fundos Partidário e Eleitoral, dos quais metade será destinada aos dois partidos que chegaram ao segundo turno nas eleições presidenciais de 2018, em vez de pensar numa estratégia inteligente. Esta seria a coleta da opinião dos eleitores pela via eletrônica. Sem a logística perversa de requisição de escolas, constrangimento de funcionários para trabalhar de graça, dispêndio com movimentação de pessoal, alimentação, aglomeração de multidões em pânico porque a peste não deixa de crescer e de causar mortes, com apetite voraz.
Pois bem. É hora de escolher Prefeito. Para isso, deixe-se de lado a polarização maniqueísta que considera um dos lados o detentor do monopólio do mal, enquanto que o outro concentra todo o bem do mundo.
A cidade precisa é de um bom gerente. De alguém que se incomode com os problemas do cidadão que nela reside. Como vai o abastecimento de água? Como está o nível do esgotamento sanitário? E o transporte coletivo? E as escolas? Pais e filhos estão satisfeitos?
Como foi o cuidado do Executivo com a pandemia? Houve real atendimento? Quem se comoveu com as mortes e com as famílias enlutadas? O sistema protetor funcionou durante a peste? Continua a funcionar, porque ela ainda não acabou?
É evidente que outras qualidades contemplariam um perfil digno de merecer o voto cidadão. Alguém que, a despeito da situação que o Brasil conquistou, de “pária ecológico” do planeta, considere a natureza local merecedora de respeito, de preservação e de incremento.
O bom candidato é aquele que está cuidando da vocação municipal e encontrando fórmulas de reduzir as desigualdades, fazendo regularização fundiária, criando oportunidades para os informais, contemplando com respeito e carinho os invisíveis que a pandemia mostrou que todas as cidades têm.
Deixe-se de lado a ira, o ódio, o ressentimento, a mágoa, seja mais doméstico. Pense na sua rua, no seu bairro, na sua cidade, na sua região. O melhor chefe de Executivo é aquele que você pode chamar pelo nome, apertar a mão, confiar. Deixe a carnificina virtual para o debate nacional. O que interessa é a sua cidade: onde você mora. A União é uma ficção para você. O seu município é que merece a sua devoção cidadã. Vote bem!
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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL); foi presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo