O início da Igreja no Brasil

Tarcisio Angelo Mascarim

 

Continuando a leitura do livro “Os 20 séculos de caminhada da Igreja”, comento como o Brasil implantou sua Igreja após a sua descoberta. Tomo a liberdade de transcrever os primeiros momentos da chegada da esquadra em 1500, de Pedro Alvares Cabral:

“Desde a sua descoberta, o Brasil foi marcado pelos sinais da fé. Na esquadra de Pedro Alvares Cabral vieram 13 navios com 1200 tripulantes. Entre os tripulantes havia oito frades franciscanos: Henrique de Coimbra, (capelão-mór), Francisco da Cruz, Gaspar, Masseu, Pedro Neto, Simão de Guimarães, Luiz do Salvador e João da Vitória.

Duas missas oficiais Frei Henrique celebrou ao chegar ao Brasil: a 26/4/1500 (domingo), num ilhéu das costas da Bahia, e a 1/5/1500, no Continente.

Até os nomes que nosso País recebeu estão ligados à fé. Primeiro chamou-se Ilha de Vera Cruz. Depois, vendo que era mais que uma ilha, deram-lhe o nome de Terra de Santa Cruz. Só mais tarde veio a chamar-se Brasil, devido a uma árvore que tinha tinta vermelha como brasa.

Aqui moravam índios de diferentes tribos, às vezes até inimigas entre si. Por isso, Pero Vaz de Caminha (escrivão da frota) pediu a Portugal que mandasse mais missionários, a fim de educar os índios na fé.

As dificuldades aqui encontradas eram muitas: língua diferente, selvas, animais ferozes… Além disso, às vezes, os índios se revoltavam por causa de injustiças dos brancos. Nessas condições não poupavam nem mesmo os missionários. Dois frades foram devorados pelos tupiniquins, logo nos primeiros anos.

Naquele tempo, a religião era importante para a sociedade e para o governo. Por isso, o rei fazia questão que houvesse assistência religiosa nas embarcações e catequese junto aos povos das terras conquistadas. A própria esquadra de Cabral compreendeu a grande aventura sob a proteção de Nossa Senhora da Esperança. E, por onde os portugueses passavam, iam ‘batizando’ os lugares com nomes cristãos (em geral, o nome do Santo do dia. Por exemplo: Cabo de Santo Agostinho, Rio São Francisco, Baia de Todos os Santos, Baia do Salvador, São Sebastião do Rio de Janeiro, São Vicente, São Paulo…)

O maior defensor da causa indígena foi o dominicano Bartolomeu de Las Casas, bispo de Chiapa, no México. Mas ele diz que a primeira voz a se levantar em defesa dos índios foi a do Frei Antônio de Montesinos, também dominicano. Las Casas, em sua obra ‘História de Los Indios, livro 3, capítulo 4’, transcreve um trecho da pregação que Montesinos fez no Haiti, no último domingo do Advento, ano de 1511.

O Evangelho daquele domingo apresentava João Batista preparando a chegada de Cristo, com estas palavras: ‘Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor…’ (cf. Mt 3,3). Então, Frei Antonio comentou o texto dizendo: ‘É para vós fazer conhecer nossas culpas para com os índios que subi neste púlpito, eu, a voz de Cristo que grita no deserto desta ilha. Vós deveis, pois, escutai-me: não distraidamente, mas com todo o coração e com todos os sentidos, a fim de entender esta voz – a mais extraordinária que jamais ouvistes, a mais áspera, a mais severa, a mais temível que jamais pensastes escutar. Ela vos diz que estais em pecado mortal, que nele viveis e nele morreis, em razão da vossa crueldade para com uma raça inocente. Dizei-me qual justiça, qual princípio vos autoriza a manter os índios numa tão horrorosa servidão? Com que direito iniciastes uma guerra atroz contra esta gente que vivia pacificamente em sua terra? Por que os deixai em tal estado de esgotamento, sem nutri-los convenientemente, sem cuidar de sua saúde? O trabalho excessivo que exigis deles acaba abatendo-os e matando-os. Ou melhor: Sóis vós mesmos que os matais, querendo cada dia mais ouro. Que cuidado tomais de instrui-los em vossa Santa religião?… Não são homens? Não possuem uma razão, uma alma? Não tendes o dever de amá-los como a vós mesmos?’”

Antes de finalizar este artigo, quero comentar que o rei de Portugal já tinha conhecimento de que encontraria terras, uma vez que Cristóvão Colombo descobriu a América em 1492 e Pedro Alvares Cabral em 1500 atracava no Brasil. O Papa Alexandre VI se tornou árbitro para fazer a partilha dos territórios recentemente descobertos no Ocidente. É o que se chamou Tratado de Tordesilhas. A linha divisória situa-se a 360 léguas ao oeste das ilhas de Cabo Verde. A partilha foi feita entre Espanha e Portugal.

Nessa fase inicial, Dom João III, rei de Portugal, dividiu o Brasil em Capitanias, entregues a donatários que tinham sobre elas poderes e direitos hereditários. Os donatários já traziam consigo padres e frades para a catequese. Por isso, é impossível falar da História do Brasil sem falar da Igreja. Todo povoado crescia ao redor de uma capela.

Aí estão as razões da importância da Igreja nos descobrimentos da América do Sul e do Brasil.

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Tarcisio Angelo Mascarim é sócio e administrador da Mascarim & Mascarim Sociedade de Advogados (mais artigos no tarcisiomascarim.blogspot.com)

 

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