Nilson da Silva Júnior
A palavra “conduta” expressa o modo, a forma, o jeito de se comportar, de proceder e agir diante das situações. Até acrescentaria sua relação não somente com a ação, mas também com a reação. Seria a maneira de agir e reagir, de falar e se calar, de proceder, de pensar e elaborar conceitos. Considero a conduta como um conjunto de questões que envolvem a vida ligada a moral, cultura e até à religião da pessoa. Creio que está na conduta a proposta de conversão de Jesus. Ele tocou exatamente aí, alterando os padrões de comportamento, as atitudes, o pensamento e a reação de seus discípulos. Por isso acredito que não há exercício prático do cristianismo sem adequação aos seus ensinos. Cristão é aquele que se deixou alterar pelo Cristo. Assim seguiu a história da religião inaugurada em Nazaré, na Palestina, há mais de dois mil anos. Assim, esses ensinamentos influenciaram posicionamentos, pontos de vista, culturas e política. Em alguns momentos religião e política se confundiram, quase se fundiram, numa experiência nem sempre positiva, onde uma ou outra se corrompia, ou ambas, no namoro com o poder e a força. Noutros, a religião salvou a política, de seu jeito, é claro. Houve tempos de harmonia, houve tempos de confronto, brigas pela verdade, contaminação e até subversão. Isso aconteceu porque a religião através da conduta religiosa age na vida, na prática, na dinâmica de cada um. A pessoa vive, fala, age, reage, pensa e se comporta segundo a conduta religiosa ou não religiosa que tem. É exatamente aí que residem minhas preocupações. Algumas pessoas dizem que escrevo sobre política usando a bíblia e seus princípios. Mas não, escrevo sobre a religião das pessoas através da conduta que expressam, especialmente, a partir do cristianismo e da Bíblia, porque o fato de se dizer cristão consiste em regrar-se por certos protocolos, ou seja, um cristão, para ser chamado assim, considerado seguidor de Cristo, deve, mais do que usar um crachá escrito “cristão”, viver segundo essa religião, essa conduta. Ou se reveste do ensinamento de Jesus e se diz seu seguidor ou abdica dEle e segue seus próprios conceitos. Não há obrigação nenhuma, é uma questão de opção. Também não há forma de dizer-se e não ser. Ou tem conduta adequada à religião, ou não professa a religião.
A crise do cristianismo contemporâneo, ou das pessoas em relação a ele, está em tentar adaptar as palavras do Cristo às suas vontades e pontos de vista. Mas isso é adulterar, alterar, manipular um código de ética pronto, proposto há muito tempo. Não vou falar de política, vou falar de religião cristã: menosprezar a vida, apoiar guerra, a discriminação, oprimir o pobre, negar socorro ao necessitado, desrespeitar o discordante, cercear a reflexão, reprimir a crítica, ameaçar o contraditório, debochar da dor, mentir, não tem relação com cristianismo. São posturas reprováveis, inadequadas e incompatíveis a quem deseja ser chamado de seguidor de Cristo. Não é que a pessoa tem que se despersonalizar para ser cristã, é que se a pessoa for, de coração, razão e alma, de conduta cristã, nunca agirá desta forma. Não há meio, forma, hipótese de juntar cristianismo com condutas violentas, desrespeitosas, truculentas ou mentirosas. Não é questão de não querer, mas de não ter como. De tentar misturar óleo e água, não dá! Alguém pode até fazer alguma manobra química, mas naturalmente, na essência, o cristianismo não coaduna, não convive com certos tipos de procedimento. Não é prazer dizer que uma pessoa não é cristã, pelo contrário, pra mim é pura tristeza! Mas meu dever é alertar e concluir o que é adequado ou inadequado! E não sou eu quem diz, há um cânon pra isso!
Escrevo como um alerta. Não adiantam as orações acaloradas, o falar em línguas estranhas, as grandes celebrações, o poder da argumentação, do microfone, da televisão. O estar ao lado de algum “rei” nalgum palácio, ou mesmo o grito de guerra em tributo a algum “mito”, o empunhar uma arma, ou mesmo fazer “arminhas” com as mãos, sinalizando o poder de matar, ou mesmo responder a alguém que te questiona com “Tenho vontade de encher tua boca de (…)” é incompatível com a conduta cristã, aliás, é reprovável a um seguidor de Jesus Cristo! É preciso ser coerente, para que não haja a trágica surpresa de ouvir dele mesmo: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”. (Mateus 7:22,23).
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Rev. Nilson da Silva Júnior, pastor, professor; [email protected]