O Brasil em três tempos

José Machado

 

Três notícias chamaram a atenção da opinião pública nacional nos últimos dias.

A primeira é aquela em que a Polícia Federal, após demorada investigação, concluiu categoricamente que a delação de Antônio Palocci de que o ex-presidente Lula teria recebido propina num esquema envolvendo o Banco BTG não merece crédito por absoluta falta de provas. Sobre esse fato, lembremo-nos de que às vésperas das eleições de 2018 o inefável juiz Sérgio Moro, numa insólita e vergonhosa decisão, liberou a referida delação para a imprensa, com o óbvio objetivo de interferir no processo eleitoral, beneficiando o candidato Bolsonaro. Num país minimamente sério e verdadeiramente democrático esse fato seria motivo mais do que suficiente para anular as referidas eleições, mesmo agora, passados quase dois desde o pleito. Isso não vai acontecer, como sabemos, contudo, é cabível fazer esse registro. É importante reiterar também que, aos poucos, e de forma inequívoca, vai se demonstrando cabalmente que a Lava-Jato, a pretexto de combater a corrupção, erigiu-se, na verdade, como um dos principais, senão o principal, estratagema para consumar o golpe de 2016 contra o governo legítimo de Dilma e atingir e macular Lula e o PT.

A segunda notícia-bomba é que o doleiro Dario Messer, em delação premiada, agora tornada pública, afirmou que, durante anos, pagou 300 mil dólares mensais para a Rede Globo, na forma de propina. A emissora tentou minimizar e se esquivar da denúncia, alegando que não há provas para sustentá-la. Ah, não? Perfeito! Que coisa extraordinária! Durante anos a fio, em horário nobre, a Rede Globo martelou a audiência divulgando com alarde e requintes de crueldade as delações premiadas contra o ex-presidente Lula, não lhe dando o direito de resposta e, muito menos, concedendo-lhe o benefício da dúvida. Reivindica ela agora em seu benefício o que negou peremptória e sistematicamente ao ex-presidente.

As duas notícias se entrelaçam, demonstram o adágio de que nada como um dia após o outro e projetam luz sobre o quadro político brasileiro. A Rede Globo tem se constituído no esteio midiático do lavajatismo e da eventual candidatura de Moro à presidência da república. Essa relação incestuosa está agora definitivamente desmoralizada, mesmo que não dê em nada a acusação contra a Globo.

Lula foi condenado sem provas por Moro e pelo esquema urdido em Curitiba e Porto Alegre (TRF-4). O Supremo Tribunal Federal (STF) tem o dever de anular as condenações sobre Lula, sob pena de enodoar em definitivo a imagem do Poder Judiciário perante os brasileiros e o mundo civilizado. Essa decisão não pode mais ser procrastinada.

A terceira notícia, que recebeu grande destaque na mídia, é a recuperação da imagem do governo Bolsonaro perante a sociedade brasileira, conforme se constata nas pesquisas de opinião divulgadas nos últimos dias. Uma notícia surpreendente, convenhamos, ainda mais se considerando o quadro trágico em que vive o país, devastado pelo Covid 19 e pela crise econômico-social, ambos evidentemente associados ao descalabro governamental. Evidencia-se que essa recuperação se explica fundamentalmente pela satisfação que se disseminou nas camadas mais pobres e desamparadas da população em razão da concessão do benefício da renda emergencial que lhes vem sendo paga pelo governo. Nada mais natural. Dois aspectos devem ser considerados na avaliação desse fato. Primeiramente, é bom se lembrar que o valor de 600 reais (podendo chegar em certas situações a 1.200 reais) representou uma exigência da Oposição no Congresso Nacional, pois a intenção do governo era restringir esse valor a 200 reais em apenas três parcelas e ponto final. Derrotado, o governo resignou-se a pagar o valor aprovado pelo Congresso e, acuado, estendeu o benefício por mais duas parcelas. Percebendo com sagacidade e oportunismo o impacto positivo dessa renda emergencial nas expectativas da população mais pobre, o governo passou a surfar na onda e a reivindicar o mérito da iniciativa, impondo uma derrota de narrativa sobre a Oposição. O segundo aspecto a ser assinalado é perguntar se o governo tem bala na agulha – melhor dizendo, margem fiscal – para seguir pagando parcelas sucessivas de 600 reais na forma de renda emergencial enquanto, pelo menos, durar a crise epidêmica e os seus desdobramentos econômicos e sociais. Paulo “Posto Ipiranga” Guedes, agarrado ao fundamentalismo ultra liberal e às exigências do mercado, diz que não e, assim, acendem-se as expectativas sobre o desfecho desse impasse.

Bolsonaro seguirá com sua agenda anti-sistema e anti-tudo, prometida na sua campanha, ou surfará na momentânea popularidade, agarrando-se ao Centrão e tudo o que há de mais sórdido para se credenciar para 2022?

Como dizia com sabedoria o saudoso Antônio Carlos Jobim, o Brasil não é para amadores.

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José Machado, economista, foi prefeito de Piracicaba pelo PT em dois mandatos

 

 

 

 

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