Alvaro Vargas
Todos nós, independente dos equívocos praticados, podemos obter o perdão e a absolvição de nossos pecados. Entretanto, torna-se necessário compreender melhor essa questão, que lamentavelmente tem sido mal explicada pela maioria das religiões. Perdoar é desculpar alguém que teve uma atitude indevida; e absolvição, é isentá-la de uma punição por esse equívoco. Importante saber que pedir perdão a Deus,e requerer a absolviçãoautomática pelos nossos pecados,é querer nivelar a Divindade anossa limitação humana. Deus criouleis perfeitas que regem o universo, e não se sente “ofendido” perante as nossas iniquidades, nem nos castiga. As Suas leis é que se encarregam de nos reeducar.
Em Jerusalém, quando uma mulher pecadora foi trazida para ser lapidada em praça pública, seguindo a penalidade vigente naquela época, Jesus foi provocado a opinar. Eleentão disse para a multidão: “Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela. Quando ouviram isso, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficaram só Jesus e a mulher, que estava no meio. Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: nem eu também te condeno; vai-te e não peques mais” (João, 8:1-11).Importante ressaltar que Jesus não a condenou, mas também não a absolveu do adultério cometido, sugerindo o caminho que ela deveria seguir.
Em um episódio anterior, ocorrido durante um banquete na casa de Simão fariseu, em Nain, na Galileia, Jesus, além de não condenar, perdoou a mulher pecadora. Era Maria de Magdala, queadentrara sem ser convidada, e após lançar-se aos pés do Mestre, com as suas lágrimas de arrependimento pelas iniquidades praticadas, lavou-os e osenxugou com os seus cabelos.Disse Jesus: “levanta-te, filha, teus pecados te são perdoados. Vai em paz. Despertastes para o reino de Deus” (Lucas, 7:48).Mas esse perdão,significou novas oportunidades para ela saldar os seus débitos perante as leis divinas. Da mesma forma que ele nãoabsolveu a mulher adúltera, que seria lapidada, também não isentou Maria de Magdala, dos danos causados em seu perispírito, devido aos equívocos praticados. Ela doou os seus bens aos pobres e seguiu Jesus. Esteve com ele, na tragédia do Gólgota, e foi a primeira a trazer a notícia da “ressurreição”. Mesmo não sendo aceita entre os apóstolos, seguiu para os vales dos leprosos, onde difundiu os ensinamentos de Jesus, até que contraiu a hanseníase (Boa Nova, Humberto de Campos e Chico Xavier). Portanto, Maria de Magdala necessitou de “limpar” a sua alma, através do amor ao próximo, e drenando para o corpo físico na forma de lepra, as energias negativas que estavam acumuladas pelo seu passado dissoluto.
Como espíritas, devemos compreender que o “perdão” de Deus se expressa nas oportunidades reencarnatórias, que nos permitem não só vivenciar as mesmas experiências dolorosas que provocamos em nossas vítimas, como repará-los, ressarcindoosque foram prejudicados por nós, em nova reencarnação. O perdão teológicoassume que aquele que comete equívocos, masrecebe a absolviçãoda igreja, está quite com a Justiça Divina. Entendemos ser essa uma interpretação equivocada e um estímuloa novos equívocos, com sérios prejuízosno processo de transformação moral das pessoas. Bem disse o profeta Isaías (700 a.C.), quando ensinou: “Porém, se se perdoar o ímpio, ele não aprenderá a justiça; na terra da retidão ele se entregará ao mal e não verá a majestade do Senhor” (Isaías 26:10).O homemsempre tenta “negociar” com Deus a sua “salvação”, conforme ocorreu com a “venda de indulgências” criada pela igreja Católica Romana (século XIII-XVI). Mas a verdade é que o único caminho possível para alçarmos os planos espirituais mais elevados é a vivência do amor, conforme preconizado por Jesus em que “fora da caridade não há salvação” (Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec).
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Alvaro Vargas, Eng. Agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita)