Vivian Patrícia Previde
Em meio à pandemia que se abateu sobre o mundo, Piracicaba comemorou seus 253 anos de emancipação política com muita discrição. A destacar-se um bem montado vídeo, com a Orquestra local, interpretando a música “Rio de Lágrimas”, que fez ecoar o nome de Piracicaba pelo país com o seu famoso “o rio de Piracicaba, vai jogar água pra fora…” O vídeo viralizou entre os moradores locais, os aqui nascidos, foi destaque nos telejornais regionais, enfim. Uma significativa peça de propaganda governamental.
Não sei se, por não conhecer toda a discografia e os autores locais, nunca tinha me dado conta de que, mesmo reconhecido como o hino oficial da cidade, o “Piracicaba que eu adoro tanto”, de Newton Melo, escrito em 9 de setembro de 1931 e tornado lei municipal pelo então prefeito Adilson Maluf, em 1975, o famoso hino foi deixado de lado este ano, substituído pelo rio que chora.
Em entrevista recente a EPTV, Lourival Santos, o autor da letra, apresentou à cidade, a mulher amada daqueles dias, a quem foi dedicada a famosa letra. Que por ter sido gravada por dupla sertaneja famosa, é certamente mais conhecida e divulgada que o nosso hino oficial.
Mas, curiosamente, também recebi nos dias subsequentes três outras músicas cantando a cidade, com outros sons, sabores e olhares. Postada inicialmente em julho de 2017 no youtube, a “Noiva em flor”, de Douglas Simões, interpretada por ele e por sua sobrinha Julia Simões, tornou-se, pelo menos para mim, outro libelo a ser reverenciado neste mês do nosso aniversário.
Com versos singelos como “minha cidade, lua cheia; meu pedaço de universo, minha aldeia; minha noiva, sedução; Piracicaba sempre no meu coração”, tio e sobrinha sugerem um encantamento indescritível. “Nossa aldeia”, que vai se tornando cada vez menos nossa, por conta de interesses nem sempre muito visíveis ou claros, ocupada pela ganância dos canaviais e pelo descaso com o povo, como temos visto ultimamente.
Mais emblemática ainda, a música denúncia de Nordhal Neptune e “Os Cabeças”, gravada em 2011, numa homenagem-denuncia aos boias frias explorados pelos donos dos canaviais e uma letra bem humorada e mordaz, sugerindo que “nunca me apresentaram, a Noiva da Colina; pra mim ela fugiu de vér e grinarda; lá do arto do artar…” Ninguém realmente viu a noiva-lenda, mas todos conhecem os efeitos da exploração dos boias frias na história recente de nossa cidade.
Recebi também a cançoneta, interpretada pelo engenheiro Rogério Vidal, igualmente chamada de “Piracicaba” em que ele sugere que que nossa Piracicaba, “ainda tão menina e já pensa em se casar; vive vestida com seu véu, todo branco de neblina; é tão linda minha terra; minha Noiva da Colina”.
Cada letra e música com seus significados e encantos. Mas confesso que, ao ver o rio de lágrimas substituir o hino oficial da cidade, fiquei me perguntando: será que Piracicaba já se “cansou de Piracicaba”? Se a própria propaganda oficial do município nos lança essa suspeita, é sinal de que, apesar de apenas 45 anos como hino oficial da cidade, a cidade “cheia de flores e encantos”, já não vive com os mesmos valores de outros dias. Por isso, sinceramente, “eu acredito na mudança”.
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Vivia Previde, advogada, pré-candidata a vice prefeita pelo Partido Liberal (PL)