Thadeu Bonomo
Seria a mesma coisa afirmar que carro à gasolina é o futuro. É claro que não é. Então porque os gestores públicos adoram asfaltar? É fato que se trata de uma obra bem visível, mas seria uma demanda legítima da “sociedade”?
Recentemente surgiu que nosso bairro, Floresta Escura e adjacências, situados na MACROZONA RURAL do município de São Pedro, receberiam a pavimentação asfáltica. Tal noticia surpreendeu vários moradores do bairro, uma vez que não possuímos nenhuma infraestrutura urbana básica, como abastecimento de água tratada coleta e tratamento de esgoto, galerias pluviais e a iluminação é parcial.
Reconheço que, por onde ando, ouço palavras positivas da gestão do Sr. Prefeito. Eu o conheço pouco, já que cheguei recentemente à cidade procurando qualidade de vida para minha família. Mas pela proposta de asfaltar um bairro rural, me parece político fazendo politicagem. Digo isso pelo simples fato deste gestor de recursos públicos, ignorar a boa técnica e colocar os carros na frente dos bois.
São Pedro é uma estância turística, tradicionalmente conhecida por suas belezas naturais, onde há inúmeras chácaras de recreio que as pessoas descansam das exaustivas cidades de pedra. Nosso bairro é fantástico. Distante a 13 quilômetros do centro da cidade, predominantemente formado por chácaras de 5.000 m2, repleto de verde, calçadas arborizadas, pássaros das mais variadas cores e espécies e diversos animais silvestres. As ruas são de terra batida, cheias de pedrinhas de rio. Vacas e cavalos são vistos com a mesma frequência que “pombos” na cidade. É um lugar muito agradável, que vai de encontro com as características turísticas da cidade.
Tudo isso está prestes a ir por água abaixo, uma vez que o asfalto trará um “ar de cidade”. Então me pergunto: A prefeitura realizou um estudo de impactos ambientais para implantação do asfalto? Foi realizado um estudo de viabilidade técnica (uma vez que não serão implantadas as galerias de águas pluviais)? Quais as consequências para a impermeabilização do sistema viário para o subsolo?
Um grupo de moradores do bairro procurou o prefeito com telefonemas, protocolos, e-mails e fomos ignorados, então, levo a crer que nenhum estudo foi realizado. De certa forma, é compreensível o anseio de trazer a “cidade” às áreas mais afastadas. Mas será que a “cidade” se expandiu tanto a ponto de chegar a 13 quilômetros de distância? Será que dispõe de tratamento de todo seu esgoto? Será que tem abastecimento de água tratada? Será que a “cidade” não precisa de mais nada prioritário que 6,3 milhões em asfalto na MACROZONA RURAL?
Qual legado este prefeito está deixando para as próximas gerações do bairro? Asfalto em área rural? Tenho duas filhas, uma de 10 anos e outra de 6. Hoje elas vivem em meio à natureza e dos animais. Passeamos com nossos cães admirando todo o conjunto harmonioso que o bairro proporciona. Contamos tucanos, tatus, preás, lagartos e os mais variados pássaros. Infelizmente, se o asfalto chegar, teremos outras preocupações, como por exemplo, não sermos atropelados, perfurar um poço artesiano, comprar um ar condicionado e ter que ir para o zoológico ver animais.
Claro que sempre tem a turma que é a favor. Aquela família que adquiriu um terreno na MACROZONA RURAL, mas quer sua casa limpinha, sem poeira e chegar em casa sem passar pela terra, afinal, lavar o carro toda semana e tirar o pó da casa é exigir demais. Sendo assim, temos mais uma reflexão: Será que o Sr. Prefeito deve atender a esses caprichos? Porque está fazendo a obra de forma apressada e sem ouvir toda a comunidade? Tudo isso não me parece razoável.
Então, o que fazer? O bom senso é, primeiramente, expandir a “cidade”. Suprir todas as demandas dessas pessoas que escolheram morar na zona urbana. Feito isso, tecnicamente, antes de pavimentar um bairro rural, deve-se implantar a infraestrutura básica, como: abastecimento de água tratada, coleta e tratamento de esgoto e galerias de águas pluviais, para, somente então, pensar em pavimentação. Mas se, ainda assim, o Sr. Prefeito entender que vale a pena colocar o carro na frente dos bois e QUISER pavimentar, porque não pensar em alternativas mais sustentáveis, harmoniosas e com menor potencial de desperdício de recursos públicos no futuro?
A exemplo do pavimento intertravado, aquele que tem na ciclovia de Águas de São Pedro e em várias cidades do litoral paulista. Ele auxilia na absorção da água da chuva, alimentando o lençol freático, garante a resistência a grandes tráfegos, não contribui para o aumento da temperatura, podem ser facilmente retiradas e reutilizadas evitando qualquer tipo de desperdício e tem maior vida útil em comparação ao asfalto.
Se há tantas vantagens assim, porque o Sr. Prefeito, no mínimo, não altera o projeto? A solução, aqui apresentada, agradaria aqueles que não querem a poeira em suas casas e não desagradaria os que sabem dos danos que o asfalto trará ao bairro. Essa é uma ótima pergunta que uma grande parcela do bairro gostaria de saber a resposta. Por fim, o asfalto no Floresta Escura é um retrocesso e dano ambiental e social.
Thadeu A.L. Bonomo – Engenheiro Civil – [email protected]
O asfalto significa progresso em grandes centros urbanos, cidades interioranas grandes, enfim regiões metropolitanas. Em áreas rurais chega a ser uma afronta à natureza. Regiões em que se situam fazendas, chácaras, sítios pedem o contato direto e absoluto com a natureza pura e simples: árvores, rios, lagos, pássaros, animais silvestres ou não, terra batida, mato, grama, mas jamais asfalto. A área rural perderia sua essência, sua magia, seu encanto, sua magnitude. O “progresso asfáltico” absorveria, por entre suas entranhas de piche, toda a beleza, a calma, a serenidade, a mansidão e a plenitude que todo ser humano precisa.
Excelente texto e reflexão! Pena que os políticos só pensem nos votos e na forma de vender suas “benfeitorias”. Mais uma vez a natureza será castigada, animais Silvestre da região que hoje circulam livremente, serão em breve atropelados e se extinguindo.
Muito triste ver o rumo em que as coisas estão caminhando.
São Pedro na contramão do mundo!