A cidade que se uniu contra a Covid-19

Pedro Antonio de Mello

No início deste ano, diante do cenário que se anunciava, decorrente da disseminação rápida do novo coronavírus pelo mundo e sua consequente pressão sobre a estrutura hospitalar de cada país, lideranças piracicabanas se articularam para a criação de uma grande força-tarefa e um pacto de união, segundo o qual, para atendimento aos pacientes com a Covid-19, não haveria na cidade diferença entre setor público e privado, mas sim, um sistema único de assistência a todos os piracicabanos que precisassem de hospitalização.

O objetivo central do encontro, realizado no gabinete do prefeito Barjas Negri, no dia 13 de março, era transmitir segurança à população e alinhar uma estratégia de trabalho integrado, visando ampliar o número de leitos de UTI nos hospitais da cidade. Participaram da reunião representantes da Santa Casa, HFC, Hospital Regional, Unimed, São Francisco, AME, DRS-X, Samu e Atenção Básica.

Foi fixado que o Hospital Regional se tornaria a unidade avançada de referência para a doença, por ser uma estrutura horizontal modular e sem fluxo cruzado. A UPA Piracicamirim seria a porta de entrada para os casos de síndrome respiratória e retaguarda hospitalar, cuja escolha se justificava pela sua posição geográfica estratégica.

Com o apoio irrestrito da DRS-X e da ação política dos nossos vereadores e deputados, conseguimos junto ao governo do estado ampliar gradativamente o número de respiradores em todos os hospitais, públicos e privados. O Município passou então de 57, até o final de março, para 133 leitos de UTI, devidamente equipados.

A UPA Piracicamirim começou a operar com três leitos de UTI e hoje já conta com 20 leitos de suporte ventilatórios pulmonares e 20 leitos clínicos. A UPA Vila Rezende também foi transformada em unidade de suporte ao Coronavírus, para observação de casos leves, com 2 leitos de UTI e 12 de enfermaria. Preparou-se inclusive a velha UPA da Vila Cristina para eventual agravamento na disseminação da doença, com mais 2 leitos de UTI, 1 de isolamento e 14 de enfermaria. Tudo isso sem desperdício de recursos com hospitais de campanha.

À Secretaria de Saúde coube ainda desenvolver uma série de ações com a finalidade de preparar a estrutura do setor público para atendimento em massa, com treinamento dos profissionais médicos, de enfermagem e técnicos, criação do Centro de Triagem do Coronavírus na UPA Piracicamirim, de um 0800 para orientações, de protocolo municipal de atendimento aos pacientes com a Covid-19, compra de EPIs e outros equipamentos.

Paralelamente, representantes do Comitê Municipal Covid-19 se reuniu com lideranças dos mais diversos setores da sociedade, como educação, segurança pública, indústria, comércio e serviços, organizações religiosas entre outras, para analisar o cenário e definir medidas em comum. Criou com a Secretaria do Desenvolvimento Social (SMADS) um centro de acolhimento dos moradores em situação de rua, no ginásio do Jaraguá. Foi elaborado o Plantão Coronavírus como canal de diálogo permanente para difusão e transparência das informações sobre o cenário, mantendo assim a população bem informada e para combater as fake news.

A prefeitura comprou 10 mil testes rápidos e recebeu outros 16 mil do Estado. Com isso ampliou sua capacidade de testar a população, de acordo com critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Foram visitadas todas as instituições de longa permanência de idosos da cidade, para vacinação contra a gripe e, com apoio do Rotary Club Piracicaba, realizadas testagens em todos eles, com orientação e monitoramento dos eventuais casos nessas entidades. As equipes da Atenção Básica fez ainda acolhimento dos pacientes sintomáticos, com aplicação de teste rápido, monitoramento telefônico e presencial, bem como visita domiciliar no caso dos acamados.

Ao longo de todo esse período, foi colocado carro de som circulando pela cidade, enfatizando a necessidade do isolamento social, da higiene pessoal e do uso de máscara. Espaços públicos de grande fluxo de pessoas passaram por desinfecção entre outras ações. Toda a imprensa trabalhou nessa mesma linha, de garantir o acesso à informações sobre a evolução da doença. Ao governo estadual coube o poder de decidir sobre a abertura ou fechamento do comércio nos municípios, de acordo com o índice de ocupação hospitalar e número de óbitos em cada Diretoria Regional de Saúde (DRS).

O fato é que o governo municipal tem feito sua parte com rigor. Colocou, inclusive, a fiscalização na rua para visitar as áreas comerciais a fim de orientar logistas e população sobre as regras estabelecidas em decretos, para a segurança de todos, com o poder de multar os intransigentes que insistissem em desrespeitar as medidas sanitárias.

Continuamos o nosso trabalho sem trégua, dialogando com a sociedade e, acima de tudo, garantindo assistência médica a todos os piracicabanos. Trata-se de uma luta incansável para que essa pandemia seja superada e possamos voltar a um novo normal. Uma travessia que seria muito mais difícil não fosse a união da cidade e a visão estratégica de suas lideranças ao firmar um pacto para salvar vidas.

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Pedro Antonio de Mello, médico, secretário Municipal de Saúde

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