Amor é mais importante do que a morte

José Renato Nalini

 

Lya Luft, 81, festejada escritora gaúcha, lança “As Coisas Humanas”, pela Editora Record. Crônicas que o Brasil inteiro aprendeu a cultuar, como das mais belas do gênero. Consegue-se “conversar” com a cronista, mulher lúcida e conhecedora dos mistérios da vida, que explora com linguagem singela e profunda.

Este livro reflete a perda de seu filho André, que em 2017 partiu com 51 anos, vítima de parada cardiorrespiratória. Falar sobre o filho é conservá-lo vivo. Lya Luft diz: “Escrevi, talvez, para mostrar que o amor é mais importante do que a morte”.

Recorda-me Maria de Lourdes Teixeira, a escritora de “Rua Augusta”, que foi a primeira mulher eleita para a Academia Paulista de Letras. Seu filho Rubens Teixeira Scavone também foi imortal bandeirante e presidiu a Casa de Cultura por excelência do Largo do Arouche, onde hoje seu neto, o escritor e fotógrafo Márcio Scavone mantém a tradição familiar. Mas tudo para dizer que Maria de Lourdes sempre repetia: “Os nossos mortos só morrem quando nos esquecemos deles”.

Não dá para esquecer filho morto. O golpe que derruba até os mais corajosos, porque inverte a ordem natural. Pais têm a prerrogativa de esperar que seus filhos os enterrem. A dor de enterrar filho é inenarrável. Tanto que nem existe verbete para designar quem a suporta. Quem perde os pais é órfão. E os pais que perdem filhos, o que são?

Continuam a respirar, a trabalhar, às vezes até a sorrir. Mas são seres amputados. Roubaram-lhes o sonho. A ilusão da permanência, que é a cadeia filiatória, a perpetuação da família.

Por isso é tão importante acreditar, como espíritos superiores, cujo exemplo hoje é Lya Luft, de que o amor é mais importante do que a morte. O amor, que move o sol e as demais estrelas, o amor que subsistiu no afeto cuja intensidade não se consegue medir, aquele que une pais e filhos.

Luc Ferry, pensador francês que me inspira muito, escreveu “A Revolução do Amor”, em que sustenta ser essa a única perspectiva de renovação da face da Terra: o amor, inexplicável, misterioso, mas forte e transformador.

Alguém duvida de que o único problema da humanidade seja a falta de amor?

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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL)

 

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