Lucila Piedade Cesta
Foi há muito tempo! Época feliz de grande aprendizado.
Sinto-me levada, não só por obrigação, mas acima de tudo por um desejo fraterno de compartilhar o que aconteceu naquele dia memorável do ano de 1971. Foi tão especial que merece ser relatado, pois acredito ser a única testemunha viva a participar daquela reunião, extremamente importante.
Trata-se do dia que o Lar dos Velhinhos abriu suas portas àquele jovem Professor Universitário, trazido pelas mãos do incansável e dedicado Sr. Aristides Giusti. Este, estava à procura de alguém que o ajudasse a cuidar daquela Instituição tão amada e que passava por dificuldades, principalmente financeiras.
Chegamos juntos ao “Lar”. Eu, uma jovem estudante da Faculdade de Serviço Social, a iniciar o primeiro estágio. Ele, Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, que surpreendeu a todos, apresentando-se como alguém que não temia ousar para realizar seus sonhos visionários.
Iniciou seu discurso com veemência. Sentiu-se à vontade e garantiu que haveria ali, naquela “Casa Sagrada”, uma grande transformação.
Não! O Lar dos Velhinhos não teria mais uma aparência triste, aspecto úmido e deprimente. Ele chegara para mudar tudo!
Em sua mente o Lar dos Velhinhos já existia, tal qual é hoje, com belo paisagismo e valorosas obras de artes. E, o mais importante: todos os residentes felizes! O Lar não precisaria mais viver de esmolas, arrecadar mantimentos na zona rural. Não teria que subsistir com donativos, contribuições. Ele, o Lar, seria auto-suficiente, pois teria uma linda capela, onde as noivas desejariam se casar e um imponente salão, onde fariam a festa! Tudo isso geraria renda. Venderia espaço para publicidade nos muros que cercavam a propriedade e mais dinheiro viria. Seria um lugar tão agradável e bonito, que muitos escolheriam seu espaço para ali residir.
Assim se faria a verdadeira distribuição de renda! Aqueles que pudessem mais, ajudariam os que pudessem menos.
Eu vi o sonho nascer! Vi Dr. Jairo “atropelar” o pensamento e o raciocínio de todos naquela sua primeira reunião. Todos os presentes tinham dificuldade em acompanhar a imaginação daquele “líder nato”, que já mostrava seu sonho a ser realizado por toda uma Equipe voluntária e generosa.
Não posso me esquecer da “cara de espanto” daqueles que se encontravam naquela sala durante a brilhante apresentação!
Todos foram inicialmente “arrastados”, depois conduzidos e, finalmente engajados naquele propósito maior.
Dr. Jairo era um homem que não temia desafios. A todos contagiava com seu vibrante entusiasmo e convicção. Acreditava num futuro promissor, de muitas bonanças!
Como se negar a participar de tão magnifico projeto, coordenado, liderado por pessoa batalhadora e confiante?
Ele era sábio, perspicaz; sabia como ninguém lidar com as pessoas e os problemas. Sua preocupação para com os mais necessitados e solitários lhe dava forças para agir e resolver com prontidão. Por seu exemplo de generosidade, desprendimento, por seu caráter humanitário, sensibilizava as pessoas, conquistava espaços e tocava aos corações ao buscar recursos. Acabava sempre conseguindo o apoio de todos.
Tive o privilégio de trabalhar ao seu lado e acompanhar toda a trajetória. Recordo-me com emoção e orgulho daquele longínquo dia do ano de 1971, quando nasceu minha grande admiração por Dr. Jairo e a amizade que se estendeu depois ao meu, então, futuro esposo que, sendo engenheiro civil, pode, posteriormente contar com a valorosa contribuição daquele, na consultoria de um projeto de Condomínio destinado à pessoas idosas.
Registros comprovam ideias marcantes e grandes feitos de alguém que produziu muito, durante toda a vida.
Saudoso tempo de reminiscências por todos com quem conviveu, a quem ele amou e serviu.
Se o Lar dos Velhinhos existe tal como é hoje, é porque Dr. Jairo ousou um dia sonhar, e sonhando envolveu as mais diversas e distintas pessoas na realização do seu projeto.
Seu grande sonho, que se tornou realidade!
Eis aí o Majestoso “Lar dos Velhinhos” a Primeira Cidade Geriátrica do Brasil!
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Lucila Piedade Cesta, assistente social
Parabéns, querida amiga Lucila, pelo inspirado artigo sobre o seu primeiro contato com o Dr. Jairo Ribeiro de Mattos. Sei o quanto o admirava, pelas suas palavras elogiosas sempre que se referia à ele e ao seu magnífico trabalho em prol do Lar dos Velhinhos.