A cidade que abraça

Valéria Rodrigues

 

1989, este foi o ano. Cheguei como todo jovem que se encanta pela nova fase da vida. Universidade, novos amigos, a liberdade que se colocava à disposição. Entre a chegada e o início da nova experiência, a perda de minha mãe, eu aos 18 anos, lidando com um novo inesperado. Depois de anos mudando de cidade em cidade pela força da profissional do meu pai, o projeto de vida era exatamente esse, parar, criar raízes, ter amigos de décadas para chamar de seu e construir uma trajetória profissional sem grandes ambições, mas que pudesse unir o prazer da escrita com a vontade de contribuir de alguma forma com a sociedade.

Lembro bem do encanto que eu sentia pelo Centro da cidade, onde ainda estava o curso de jornalismo da Unimep naquele último ano da década de 80. O curso noturno já dava o tom do quanto a noite da cidade seria encantadora, com sua ebulição cultural e um maluco adorável chamado Kall Mattus, maluco e adorável até hoje, perambulando pelos botecos da vida e mostrando o quanto as pessoas poderiam ser interessantes, a música poderia ser confortante e o aprendizado, sem fim.

O jornalismo se enraizando pela chance de estar no Diário de Piracicaba já no primeiro ano de faculdade, enquanto a cidade que escancarava seus braços, deixava claro que estrangeiros, aqui, são muito bem vindos e teriam um campo fértil se quisessem se dedicar pelo desenvolvimento desta cidade.

Meus olhos ainda não se acostumaram com suas belezas. Seus pássaros, o Rio Piracicaba, o Tanquã e o Monte Alegre, o Engenho Central, que mais tarde seria entregue definitivamente ao povo, os campos da Esalq, a magia do Largo dos Pescadores. Todo dia, todo ano, a cada noite ou amanhecer, Piracicaba tem uma magia, um encantamento que inebria quem aqui escolheu para viver.

Às vezes até dói a alma perceber que muitos sequer pisaram em locais que a gente, filhos adotivos, sente saudade quando fica longe. Aquela pequena lagoa no Parque do Trabalhador, cheia de ninfeias e que por algum tempo ficou sem flores, que beleza é aquela que eu tenho o prazer de ver diariamente quando saio ou retorno para casa? Um privilégio.

Piracicaba tem cheiro de carinho, se olharmos bem para ela, dá até para se culpar pelo pouco caso que ainda temos quando algo parece fora do lugar. É preciso fazer parte, e isto não tem a ver apenas como participação, mas com pertencimento, com cuidado, com carinho, com vontade de somar para preservar seus valores e sua história.

Eu, que esperava apenas ter raízes, tenho muito mais. Tenho o mais belo cenário para ilustrar a parte mais bonita da minha história. Parabéns, e obrigada, Piracicaba!

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Valéria Rodrigues, jornalista, Diretora de Comunicação da Câmara Municipal de Piracicaba

 

 

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