Volta às aulas presenciais: a quem interessa?

Cimara Prada

 

Em meio à pandemia da Covid-19, torna-se urgente o debate sobre a volta às aulas presenciais no Estado de São Paulo, cuja primeira etapa se prevê para 8 de setembro. Nesse contexto, devemos refletir não só sobre o motivo da reabertura das escolas, mas também sobre como ela seria numa conjuntura na qual todos os atores do processo educativo vivem uma situação inédita e de insegurança.

O Estado de São Paulo concentra, hoje, o maior número de infectados no país (mais de 500 mil), panorama duvidoso para reabrir as escolas. Tal decisão dependerá da permanência de todas as regiões do estado na fase amarela (fase 3) por, pelo menos, 28 dias antes de 4 de setembro.

A volta ocorreria em três etapas: Etapa 1 (até 35% dos alunos de forma presencial); Etapa 2 (até 70% dos alunos); Etapa 3 (100% dos alunos). Apesar dos diversos profissionais envolvidos no plano, até o momento, a sociedade civil pouco participou desse debate, o que torna, ainda mais polêmico, o retorno às aulas.

Segundo a Fiocruz, essa volta “pode representar um perigo a mais para cerca de 9,3 milhões de brasileiros (4,4% da população total) que são idosos ou adultos (com 18 anos ou mais) com problemas crônicos de saúde e que pertencem a grupos de risco”. Nessa direção, torna-se preocupante, por exemplo, o uso de transporte público pelos alunos, devido à falta de controle sobre seu comportamento, situação que pode ampliar a contaminação em casa.

Além desse risco, é inevitável que a ausência de políticas bem coordenadas entre os níveis de governo prejudique a economia. Por isso, entidades patronais pressionam pela reabertura dos estabelecimentos não essenciais, sem compreender a gravidade do cenário: no Brasil, infelizmente, já foram a óbito mais de 90 mil cidadãos.

Piracicaba reabriu seu comércio em junho, apesar de as escolas e creches estarem fechadas, o que significou, para pais e mães, escolher entre cuidar dos filhos e trabalhar. Porém, com o aumento de casos da Covid-19 e a volta à fase vermelha (a mais grave), a cidade viu-se obrigada a fechar seu comércio novamente. O fato indica falta de planejamento e de ações que minimizem não só a disseminação da doença, mas também o receio da população.

Apesar de a Secretaria Municipal de Educação vir coordenando a retomada, não se sabe como será a rotina nas unidades escolares. A ideia é os alunos receberem máscaras e instrumentos de higienização, bem como cumprirem o distanciamento de 1,5 m nos espaços escolares. Porém há defasagem de profissionais (e, em alguns casos, de estrutura) para garantir a total adesão às exigências.

Nesse contexto, voltamos à pergunta: a quem interessa a volta às aulas presenciais? Se, aos envolvidos, seria um risco, por que retomá-las? Em vez disso, dever-se-iam propiciar, aos atores educativos, instrumentos e treinamentos voltados ao ensino híbrido (que mescle aulas presenciais e a distância) para quando a pandemia acabar.

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Cimara Prada, professora e empreendedora.

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