Vai ser na marra

José Renato Nalini

 

A cupidez, a ambição, a ganância, costumam habitar a mentalidade de muitos seres humanos que pensam viver indefinidamente. A ignorância faz com que hostilizem as vozes sensatas que defendem a natureza. Estas se perdem no histrionismo falacioso que acha incompatível a tutela ambiental e o aumento da produtividade do agronegócio.

O recado estatal para a criminalidade organizada foi imediatamente assimilado e a curva exponencial do desmatamento é um atestado inequívoco. Para justificar o premeditado extermínio da floresta, são utilizados toscos e superados argumentos. Fala-se em “soberania” brasileira, sem lembrar que esse conceito reside apenas nos compêndios jurídicos. Como equacionar a soberania com a chuva ácida? E com as nuvens de gafanhotos? Ou com a ilha de plástico vagando pelos mares?

Qual a soberania possível no mundo em que os grandes conglomerados econômicos ditam as regras e submetem nações às suas diretrizes, ditadas pelo mercado, o verdadeiro soberano?

O retrocesso ecológico no Brasil, insuscetível de causar indignação endógena, porque os interesses da maioria despreparada estão num nível muito primitivo, é observado pelas Nações civilizadas. Graças a elas, talvez nem tudo esteja perdido para nós.

Além dos CEOs que controlam os fundos milionários, responsáveis pelos investimentos dos quais o Brasil tanto precisa, outras entidades se posicionam cobrando o Governo por uma atitude responsável. O clima afeta a todos. O Brasil não pode, em nome dessa ideia tão fissurada de soberania, destruir o futuro da humanidade no planeta.

O acordo que diplomatas brasileiros levaram mais de vinte anos para celebrar com a União Europeia, está fazendo água. As eleições na França evidenciaram que a ecologia é o assunto do momento. O candidato democrata nos Estados Unidos percebeu que o tema entusiasma a juventude.

Talvez o governo deixe de se comover com a sensatez. Mas prestará atenção à política verde de não investir num país que oferece ao mundo um deprimente espetáculo de retrocesso. Paradoxalmente, uma República que estava na dianteira da preservação e que sustenta, no seu avançado constitucionalismo, a solidez do princípio da vedação de retrocesso.

Para a política partidária brasileira se convencer, só ameaçando com desequilíbrio na balança comercial ou com o isolamento decretado pelas Nações que levam o ambiente a sério. No Brasil de hoje, só na marra…

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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL)

 

 

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